Pantanal já apresenta contaminação por esgoto e fertilizantes
2004-10-27
A bordo de um avião monomotor anfíbio, um casal tem singrado céus e águas de todo o país. O piloto Gérard Moss e sua mulher, Margi, ambos de 49 anos, são as figuras centrais do projeto Brasil das Águas, iniciativa que visa mapear a qualidade dos mananciais de água doce. Os dois aventureiros, europeus de nascença e brasileiros por opção, rodam o mundo num monomotor há pelo menos 15 anos. Com essa experiência no currículo, embrenham-se grotões adentro recolhendo amostras de rios, represas e lagos de uma forma muito peculiar. Sobrevoam o alvo e avaliam os riscos, antes de mergulhar num vôo rasante, a mais de 100 quilômetros por hora, para coletar, em poucos segundos, a amostra que será analisada em universidades.
Já foram colhidas mil amostras. A dois meses do fim da missão, resultados preliminares assustam os profissionais do projeto. Um dos mais impressionantes é que, das 45 coletas no Pantanal, metade tinha um estado inicial de poluição provocado pelo despejo de esgoto não-tratado e fertilizantes. Algumas apresentavam 50 microgramas de fósforo por litro, duas vezes mais que o índice recomendado pelo Conama - órgão do governo que estabelece padrões de qualidade ambiental - para águas para consumo humano e irrigação. —Se essa concentração de nutrientes nas águas aumentar, vai incentivar a proliferação de algas, que alteram o ecossistema e roubam oxigênio da água, matando os peixes—, explica o biólogo Donato Abe, do Instituto Internacional de Ecologia, responsável por algumas análises. Algumas dessas algas podem ser tóxicas. (Época/48)