Especialistas britânicos dizem que perigo de armas biológicas é real
2004-10-26
A ameaça das armas biológicas é real e pode ser uma das maiores enfrentadas no mundo hoje em dia. O alerta foi feito pela Associação Britânica de Medicina num relatório sobre o assunto divulgado nesta segunda-feira (25/10). Segundo a organização, a oportunidade para que algo seja feito para evitar esse tipo de problema está diminuindo de maneira rápida. — Essa tecnologia pode ser usada por subgrupos terroristas e, eventualmente, por indivíduos perturbados, afirmou Malcolm Dando, autor do estudo Armas Biológicas e Humanidade II, durante uma entrevista coletiva. No documento, os especialistas pediram que os Estados Unidos parem de bloquear os esforços para que a Convenção de Armas Biológicas e Toxinas se torne mais rigorosa, quando for renovada em 2006. Ele advertiu que o desenvolvimento de armas biológicas para atingir um grupo étnico específico está mais perto de se tornar realidade. Dando disse ainda que, teoricamente, é possível recriar vírus devastadores como o da Gripe Espanhola de 1918, que provocou a morte de 40 milhões de pessoas. — A situação hoje é bem pior do que quando publicamos o último relatório, há cinco anos, afirmou a doutora Vivienne Nathanson, chefe do Departamento de Ciência e Ética da associação. — Nunca foi tão fácil desenvolver armas biológicas. Tudo que é preciso fazer é olhar na Internet.
Medidas urgentes
Segundo a especialista, a leitura do relatório não é algo agradável, devido a suas conclusões pessimistas. No entanto, ela frisou que é importante que os governos tomem as medidas necessárias agora. — Se esperarmos muito, pode ser virtualmente impossível nos defender, disse Nathanson. Os pesquisadores lembraram que os ataques com antraz, ocorridos nos Estados Unidos em 2001, e o uso do agente fetanil, desenvolvido pelos russos, no cerco ao teatro de Moscou, com resultados desastrosos em 2002, mostram que as armas biológicas já existem. Dando chama atenção para o fato de que, apesar disso, a Convenção de Armas Biológicas e Toxinas, estabelecida em 1975, não prevê meios de monitoramento ou como combater o uso desse tipo de armamento.
— A melhor maneira de descrever o acordo é dizer que é de cavaleiros, disse Dando, que é diretor dos estudos sobre paz da Universidade de Bradford. Ele afirmou que havia fortes mecanismos internacionais para controlar as armas químicas e nucleares, mas quase nada em relação ao que ele chamou de desordenado desenvolvimento da biotecnologia. Dando disse que os Estados Unidos, sob administração George W. Bush, virou as costas para vários acordos internacionais, o que fez com que o acordo de 75 continuasse fraco 19 anos após sua criação. (O Globo 25/10)