Brasil pode fazer ogivas nucleares
2004-10-26
A usina de enriquecimento de urânio instalada em Resende (RJ), caso fosse configurada apropriadamente, poderia produzir combustível para várias bombas atômicas. O alerta, que adiciona desconfiança sobre as pretensões nucleares do país na comunidade internacional, foi dado por dois pesquisadores num artigo publicado ontem na prestigiosa revista científica norte-americana Science (www.sciencemag.org). Segundo Liz Palmer e Gary Milhollin, ambos da ONG americana Projeto Wisconsin para Controle de Armas Nucleares, voltada para o cumprimento dos acordos de não-proliferação da tecnologia da bomba atômica, a instalação de Resende em sua configuração atual poderia produzir urânio enriquecido suficiente para seis ogivas a cada ano. Segundo as projeções de expansão da usina, em 2010 esse número poderia aumentar para 26 a 31 ogivas anuais; em 2014, para 53 a 63. A dupla usa os números para justificar a necessidade de uma inspeção cuidadosa por parte da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), a fim de se certificar de que a usina será usada somente para os fins declarados pelo governo brasileiro - a produção de urânio enriquecido para o abastecimento das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2.
Os inspetores da AIEA já terminaram seus trabalhos na instalação, mas não tiveram acesso às centrífugas - peças centrais usadas para obter maiores concentrações de urânio-235 (a versão mais instável da substância, usada para produção de energia nuclear) nas amostras, processo chamado de enriquecimento. (Diário de Cuiabá, 25/10)