Paranaense faz combustível de frango
2004-10-15
Na próxima semana, o Brasil inicia evento pioneiro, que deverá se repetir todos os anos. É a primeira Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, com mais de 800 eventos em todo o País (veja reportagem na página 2). A idéia segue práticas já enraizadas em vários países. O objetivo é sempre o mesmo: atrair o jovem para a ciência. Mas, por trás do óbvio, estão questões estratégicas. Trata-se de algo simplesmente crucial para uma nação. Significa melhor qualidade de vida. Nesse início, a idéia é começar desmistificando alguns conceitos, como aquele estereótipo do cientista, algo meio excêntrico, algo meio doido. Um ser intocado, um em um milhão. A idéia é mostrar que a ciência é algo divertido, presente a cada instante do nosso cotidiano, aberta a quem quiser se aventurar e prosperar.
É o caso, por exemplo, de um paranaense de Apucarana, cidade a 370 quilômetros de Curitiba. João Claudio Plath é estudante de biologia e dono de uma distribuidora de jornais. Há cerca de quatro meses, ele vem gastando três vezes menos combustível, sem rodar um metro a menos. Tudo começou em abril deste ano. João estava vendo um documentário na televisão sobre alternativas energéticas, entre elas o biodiesel oriundo do óleo de frituras. Encantado com a perspectiva de diminuir o principal gasto da empresa, ele pediu orientação a um de seus professores, Edimilson Canezin. A idéia, entretanto, estancou na pouca oferta da matéria- prima. Mas, em uma de suas entregas, João viu, na porta de um supermercado, uma máquina de assar frangos. —O pessoal aqui chama de televisão de cachorro—, diverte-se, salientando, entretanto, que esse óleo tinha como destino o lixo.
Tinha, até que o dono do supermercado aceitou doar a gordura equivalente a cerca de 40 frangos assados todos os dias. O resto da história foi consumida em pesquisas e testes. Dois meses depois, um dos carros da empresa, um jipe a diesel com motor de uma picape Saveiro, passou a rodar com biodiesel de gordura animal. João faz as contas. —O litro de diesel comum custa cerca de R$ 1,50. Com o biodiesel, gasto menos de quarenta centavos por litro de combustível—, comemora. Nos últimos três meses, João já rodou 3 mil quilômetros. —Uma máquina de frango me fornece matéria-prima para o mês inteiro—, explica, acrescentando que a mistura final ainda leva soda cáustica, metanol e álcool.
Ele, entretanto, não sabe qual o impacto desse coquetel nas engrenagens do motor, e nem aparenta estar muito preocupado. —Se tivesse que dar problema já tinha dado—, afirma, convicto de que o risco, até agora, valeu a pena. —A gordura ia para o lixo. Tive acesso à informação, gostei da idéia e fui atrás. Testei várias fórmulas, usando a minha própria máquina de lavar roupa para misturar os ingredientes. E funcionou—, explica o estudante-empresário paranaense. Agora, a idéia é montar um projeto de pesquisa, aprimorar não só o biodiesel de gordura de frango, como também analisar o desempenho do motor. A ciência, para João, é agora uma brincadeira sem limites. (A Tribuna Digital, 14/10)