Novo modelo com geração distribuída cria mercado para co-geração
2004-10-13
O novo marco regulatório para o setor elétrico vai ampliar a utilização da geração distribuída (GD), pois permite que as distribuidoras possam adquirir até 10% de sua carga por meio deste tipo de contrato. Essa é opinião de especialistas que analisam o segmento sob a ótica do novo modelo. Atualmente, o parque gerador brasileiro tem uma potência instalada de 88,5 mil megawatts (MW), de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Desse total, a GD responde por apenas 3%. Nos próximos dez anos, a expectativa é que esse número cresça para 15%, segundo estimativa do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE).
Novo conceito
Os geradores distribuídos são aqueles instalados junto dos consumidores e que dispensam longas linhas de transmissão. O novo modelo prevê que, além de comprar energia de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) com até 30 MW de capacidade instalada, as distribuidoras podem adquirir eletricidade de co-geradores e pequenas usinas que usam resíduos de processos industriais como combustível. — O decreto número 5.163 criou o conceito de geração distribuída, que não existia sob o ponto de vista comercial, afirma o diretor de comercialização da CPFL Energia, Roberto Wainstok. Na avaliação de Wainstok, esse sistema será uma alternativa importante para possíveis ajustes na carga contratada pelas distribuidoras em leilão. — No leilão, a distribuidora terá que antecipar a carga que vai utilizar nos próximos cinco anos. Caso o mercado supere a estimativa, a empresa poderá comprar, de modo fácil e rápido, de usinas de geração distribuída, acrescenta Wainstok. Segundo o consultor especializado no setor elétrico Pietro Erber, a principal vantagem da GD é que a distribuidora poderá comprar energia diretamente das pequenas usinas geradoras e fora do ambiente de contratação regulada.
Grande potencial
Na opinião do diretor-geral do INEE, Jayme Buarque de Hollanda, outra vantagem da GD é a possibilidade de atender a algumas regiões sem que haja necessidade de reforço da rede de transmissão. — A geração distribuída acaba se tornando mais eficiente, pois economiza investimentos em transmissão e reduz as perdas nestes sistemas, afirma Hollanda. A co-geração a partir da biomassa da cana-de-açúcar é um dos empreendimentos de GD com maior potencial de crescimento no Brasil. Co-geração é a produção simultânea de eletricidade e energia térmica (calor/vapor), por intermédio do uso seqüencial da energia liberada por uma ou mais fontes combustível. Maior produtor mundial de cana, o Brasil gera anualmente cerca de 52,5 milhões de toneladas de palha e 91 milhões de toneladas de bagaço de cana. Segundo dados do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), atualmente poderiam ser gerados no país 8,7 mil MW a partir da biomassa da cana-de-açúcar. Em 2011, esse potencial pode subir para 13,4 mil MW. Roberto Wainstok concorda que as usinas de biomassa poderão se beneficiar do processo de expansão da geração distribuída, mas lembra que para efetivamente conquistar espaço a energia produzida por usinas de GD precisa ter um custo competitivo, já que as distribuidoras só repassam aos consumidores o preço médio de todos os contratos firmados. — A lei estabelece que eventuais reduções no custo com a aquisição da energia gerada por GD serão repassadas ao consumidor. Mas, em caso de aumento dos custos das distribuidoras com a compra de eletricidade de geradores distribuídos, não está previsto na lei se haverá repasse desses gastos ao consumidor, destaca o diretor da CPFL.