Em Goiás, peixes vão ter que voar
2004-10-07
Por Henrique Casanova
O problema atinge todo país. Em Goiás, a construção da barragem da Serra do Facão, no rio São Marcos, vai acabar com o último corredor ecológico de peixes da região. — Os peixinhos vão ter que voar, se quiserem seguir fazendo suas migrações periódicas. O São Marcos é o último rio livre de barragens na região, explica a representante local do MAB, Sandra Aparecida Alves. Em 2001, um grupo construtor formado pela Alcoa Alumínios, Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), Votorantim Cimentos e DME Energia Elétrica, conseguiu licença para construir a barragem da Serra do Facão, no rio São Marcos, em Goiás. De acordo com Sandra, a população reagiu e conseguiu impedir o inicio das construções, que não começaram até hoje. O MAB conseguiu apoio de geógrafos da Universidade Federal de Goiás, que após um estudo posicionaram-se totalmente desfavoráveis à construção da usina.
Sandra diz que o Ibama ignorou o alerta e a licença segue de pé. A hidrelétrica de Serra do Facão está na lista de prioridades do governo e provavelmente inicie a construção em breve. Sandra informa ainda que a energia gerada pela usina será usada só pela industria de alumínio, sendo transmitida à rede geral apenas eventualmente. Próximo a Barra Grande, a barragem de Foz do Chapecó acaba de ser licenciada pelo Ibama, no último dia 21. Como nos outros casos, as reclamações da população são grandes. José Mauro Bremm, morador de Volta Grande do Alpestre e ligado ao MAB, diz que mais de 3.500 famílias serão retiradas de suas terras. — A construção vai expulsar agricultores de suas terras e comunidades como Alpestre ficarão ilhadas, com difícil acesso e mudanças drásticas no modo de vida, prejudicando sua economia. A construtora diz que vai reassentar 2.400 famílias, mas o número real de pessoas prejudicadas é bem maior que esse, diz Bremm. Mais uma vez o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) é contestado. Esses estudos parecem piada. Os documentos são copiados de uma barragem para outra, erram até o nome das cidades. A equipe do Projeto Setor Elétrico, Território, Meio Ambiente e Conflito Social, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ETTERN/UFRJ), analisou o documento e divulgou conclusões tais como:
— A análise dos impactos da UHE Foz do Chapecó deste RIMA é inconsistente e ineficaz. A qualidade técnica do estudo é sofrível, e sua idoneidade questionável, pois tudo indica uma posição a priori favorável, em quaisquer circunstâncias, à implantação do projeto. (...) verificamos de imediato inúmeros aspectos que conformam o RIMA enquanto legalmente questionável, além de tecnicamente falho, o que pode levar a um quadro de calamidade sócio-ambiental e à subestimação de seus reais custos econômicos. — Por tudo que foi exposto, portanto, não poderíamos senão recomendar ao órgão ambiental que não conceda licença ao empreendimento(...)