No último dia 23/09 a ministra Marina Silva foi a Curitiba para inaugurar a nova sede do IBAMA. Mas foi o relato de ambientalistas, integrantes do chamado
Grupo de Trabalho Araucárias que mais marcou o evento. Durante uma hora, a ministra, o secretário de meio ambiente do Paraná, o presidente do IBAMA e outras autoridades ligadas à área ambiental ouviram depoimentos sobre a ameaca que os grandes projetos hidrelétricos representam para os últimos remanescentes das Florestas Ombrófilas Mistas que ainda restam nos três estados do Sul. Entre os exemplos, está o da construção da hidrelétrica de Barra Grande, apresentado pela Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí(SC) (http://www.apremavi.com.br). Segundo o relato da ONG, se Barra Grande for realmente legalizada, mais de 2.000 ha de floresta primária, e mais de 4.000 ha de florestas em diferentes estados de regeneração serao engolidos pelas águas. — O projeto está amparado em um EIA/RIMA que identifica estas áreas como capoeira, denunciaram os ambientalistas.
Discussão na internet
Quase que simultaneamente ao evento no Paraná, membros da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA) iniciaram uma discussão na internet para lembrar o quao grave é o assunto. Além da perda de vegetação, os grandes projetos hidrelétricos têm provocado perdas e mudancas na fauna e nas comunidades próximas. Ainda no início de setembro pescadores de seis colônias ocuparam o pátio da Usina de Manso no Mato Grosso para reivindicar indenizacao pelos prejuízos causados à sua atividade pela barragem. Segundo o Grupo de Trabalho Ambiental do MT (gtamt@terra.com.br) há uma acao que está parada na justica, embora já esteja cientificamente comprovada a responsabilidade da barragem pela queda da quantidade de pescado e pela degradacao da qualidade da água do rio Cuiabá. Os pescadores lembram que dois anos atrás negociaram diretamente com a direção de Furnas, empresa responsável pela usina, para obter uma compensacao pelas perdas. A empresa pediu 60 dias para apresentar uma resposta, mas não se manifestou mais sobre a questao. — A Justiça Federal dificilmente vai dar vitória contra o próprio governo federal, escreveu o GTAMT em nota.
Ao todo sao cerca de 2650 famílias afetadas espalhadas pelos municípios de Nobres, Rosário Oeste, Cuiabá, Várzea Grande, Santo Antonio de Leverger e Barão de Melgaço.
Entre as reivindicacoes dos pescadores estao a indenização de quatro salários mínimos para cada pescador e o repovoamento do lago como exigido no Estudo de Impacto Ambiental. — O laboratório para reprodução e alevinagem não foi feito, lembra o GTAMT. O Ministério do Meio Ambiente, a Secretaria Especial de Pesca e o restante do
Governo Federal ainda não se pronunciaram sobre o problema. — O caso que mostra claramente o tipo de impacto sempre omitido pelos grandes projetos de hidrelétricas no
Brasil, opina o Grupo.
Exemplos externos
— O caso mais dramático que conheço na história recente do Brasil, é o caso dos Avá-Canoeiros, lembrou o jornalista Carlos Tautz. — Primeiro, mais de 100 deles foram
massacrados por grileiros que no início dos anos 1970 começavam a invadir o cerrado, principalmente Goiás. Depois, mais tarde, na década de 1980, foram prostituídos, ridicularizados e tratados como dementes pelas empresas que se sucederam na construção da hidrelétrica Serra da Mesa, em Goiás. Já no finzinho da construção, essa
obra foi assumida por Furnas, que deu lá uma casinha pros seis Avá-Canoeiros restantes (que originalmente eram nômades) e acha que fez mais do que sua obrigação, resumiu Tautz.
Mas os exemplos do exterior mostram que a moda das grandes usinas hídricas nao é exclusividade do Brasil. Além da China, Índia e vários países da África, pequenos países como El Salvador também estao na mira das construtoras. — Estao querendo mudar o curso do rio Lempa, o principal do país, para fazer uma represa e ao norte há outro projeto do gênero, apontado como responsável pelas tentativas de assassinato de líderes camponeses que se negam a deixar suas terras, contou o jornalista Nestor Martinez.