Sem reciclagem de computadores, não só o meio ambiente se ressente. Milhões de excluídos digitais também. Esta é uma das questões que vem mobilizando a atenção do CDI há vários anos e cada vez mais, sobretudo porque a crescente demanda por novidades tecnológicas resulta em um número maior de computadores a serem potencialmente desviados do destino de lixo eletrônico para terem um fim bem mais nobre.

Já em 1994, em sua forma embrionária, o CDI reuniu jovens que habitavam favelas do Rio de Janeiro para lhes dar um curso de manutenção de equipamentos de informática. Meses antes, havíamos realizado uma campanha pioneira - Informática para Todos - visando arrecadar computadores para centros comunitários e associações de moradores. Ela veio acompanhada de uma iniciativa igualmente inovadora: a criação de uma logística de reciclagem dos equipamentos.

Estas experiências repercutiram tão positivamente que geraram o nascimento de escolas de informática e ganharam do jornalista Boris Casoy, durante um telejornal da época, o comentário de que nossas ações representavam um ato de cidadania a ser copiado e expandido para todo o país. Dito e feito. A partir daí, começamos a criar a cultura da democratização da informática - por meio de parcerias -, sem perder de vista que o processo de inclusão digital deveria ir além da abertura de escolas, do ensino de programas e da preparação dos alunos para o mercado. Implicava preocupação quanto aos meios de disponibilizar equipamentos para populações de baixa renda, quanto ao modelo pedagógico a ser aplicado na aprendizagem e quanto à responsabilidade de cada indivíduo, instituição, empresa e governo nesta área.Assim surgiram as Escolas de Informática e Cidadania (EICs) do CDI, utilizando a tecnologia da informação e comunicação como ferramenta para proporcionar mais autonomia de vôo às comunidades que sofriam diversos apartheids, não apenas o digital. E, ao lado da expansão das EICs - que agora somam 910 -, o CDI começou a implementar setores de reciclagem de computadores, com a participação de voluntários (técnicos e não-técnicos), para prolongar a vida útil e melhorar a qualidade dos equipamentos encaminhados às Escolas. Há voluntários que prestam serviço de manutenção dos computadores nas EICs, mas a maioria opera nos próprios Laboratórios Técnicos de Informática e Cidadania do CDI, às vezes o ano inteiro, buscando reutilizar ao máximo os materiais e armazenar os equipamentos de maneira adequada. A filosofia que os orienta é a de que o sucateamento deve ser evitado e de que o único impacto social que interessa ao CDI é aquele capaz de acenar com a possibilidade de horizontes no futuro.

Desviar do lixo peças que podem ter um destino nobre

Este trabalho de conscientização dos voluntários, que se reflete no reaproveitamento dos recursos tecnológicos, se evidencia especialmente quando o CDI lança a sua campanha anual Megajuda - a primeira do gênero na América Latina e cuja quinta edição aconteceu em 12 de agosto, na Fiesp. À campanha sucede o Mutirão Megajuda, com o propósito de recuperar e preparar os equipamentos de informática doados por pessoas físicas e jurídicas. Nos próximos dias 25 e 26 de setembro, a população de São Paulo tem um encontro marcado com o primeiro Mutirão Megajuda de 2004, no Centro de Educação Tecnológica Interamericano (Ceinter), que reunirá centenas de voluntários.

Entre outros aspectos, os Mutirões Megajuda ratificam a importância de se fechar o processo da inclusão digital com a reciclagem de equipamentos. Não fosse para prevenir riscos de graves danos ao ambiente, seria para evitar desperdícios. Desde 2002, pesquisadores da ONU anunciaram que o peso dos computadores é 30 vezes menor do que a quantidade de energia e produtos químicos necessários para fabricá-los. E mais: equipamentos de informática constituem, hoje, uma das fontes de resíduos tóxicos que mais cresce no mundo. Pior: em três anos, mais de um milhão de PCs sairá de linha nos EUA e na Europa, enquanto o acesso a computadores em sala de aula, nos países em desenvolvimento, continua restrito a 1% dos estudantes que completam o ensino médio.

Ciente deste panorama, o CDI está viabilizando alternativas para dar um finalidade positiva às peças que não consegue reutilizar nos micros. Serão destinadas, por exemplo, a entidades que trabalham arte a partir de sucatas, favorecendo um público formado por crianças, adolescentes e portadores de necessidades especiais. Entretanto, nosso alvo permanece focado no reaproveitamento dos materiais eletrônicos sempre que possível, até pelo fato de o custo de um equipamento reciclado no CDI ficar em menos da metade do valor de compra de um equivalente usado.

Existem, portanto, motivos de sobra para enfatizarmos as colaborações e doações à Megajuda. De pequenas em pequenas doses, esperamos transformar o pouco em muito e otimizar o melhor uso da tecnologia. E, deste modo, nas campanhas que virão, talvez possamos multiplicar nossas expectativas.