Tucurui: a história de um erro
2004-09-08
Tucuruí é um produto da era Brasil Grande dos anos 70, quando a ditadura militar que então estava no poder promoveu megaprojetos como a Rodovia Transamazônica. A represa é a maior inteiramente dentro do Brasil e é citada pela Eletronorte como um modelo para mais de 70 outros projetos de hidrelétricas que o governo planeja construir na Amazônia. Mas em sua pressa de concluir o projeto, os governantes do Brasil ignoraram os alertas dos ambientalistas e engenheiros e inundaram a floresta tropical antes de removerem as árvores. Quando tardiamente resolveram cuidar do problema, a empresa escolhida para realizar o trabalho foi o próprio fundo de pensão dos militares, que não tinha experiência em corte e transporte de madeira, mas era muito bem relacionado politicamente.
Utilizando a floresta submersa como garantia, a empresa foi capaz de obter mais de US$ 100 milhões em créditos. Mas após remover algumas árvores de madeira-de-lei particularmente valiosas, ela faliu, provocando imensas perdas para os credores e uma investigação de corrupção pelo Congresso que o governo eventualmente anulou. - Foi tudo um grande golpe financeiro, somado à estupidez das agências federais, disse Osório Pacheco Alves, o secretário municipal de saneamento daqui. Por anos, a população local removeu clandestinamente os troncos de árvores que puderam. Mas há uma década, a Eletronorte fez uma licitação para iniciar a remoção da madeira em escala comercial, concedendo contratos de 15 anos que agora foram descartados.
Em um esforço para dobrar a capacidade de geração da represa, para 8 mil megawatts, novas turbinas estão sendo instaladas. Mas os críticos prevêem que com a madeira não mais sendo removida, os problemas aumentarão. Apesar de a submersão retardar a decomposição dos troncos de árvores, eles eventualmente apodrecerão, liberando dióxido de carbono. Cientistas e mergulhadores dizem que a água no reservatório está se tornando mais ácida, aumentando o risco de corrosão do equipamento, uma noção descartada por Antônio Raimundo Ribeiro Coimbra, diretor de assuntos ambientais da Eletronorte.
Os cientistas estão ainda mais preocupados com a elevação e redução sazonal do nível das águas aqui e a conseqüente decomposição da vegetação. Tucuruí é virtualmente uma fábrica de metano, disse Philip M. Fearnside, um pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. As pesquisas sugerem, ele acrescentou, que as árvores mortas podem servir como condutos que transportam o metano do solo do fundo do reservatório. Durante grande parte dos anos 90, ele disse, Tucuruí produziu mais emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa, entre 7 milhões e 10 milhões de toneladas por ano, do que a Grande São Paulo, com cerca de 20 milhões de habitantes.(NY Times 07/09)