Passivo da floresta ameaça hidrelétrica de Tucuruí
2004-09-08
Uma coisa engraçada aconteceu quando o governo do Brasil estava construindo a gigantesca usina de US$ 8 bilhões (cerca de 24 bilhões) que carrega o nome de Tucuruí, cidade na região oriental da Floresta Amazônica. Alguém esqueceu de cortar as árvores e desmatar a área de 2.875 km2 que seria inundada, e 20 anos depois isto se tornou um problema. A decomposição da vegetação resultou na emissão de milhões de toneladas de gases responsáveis pelo efeito estufa. Os troncos de árvore submersos atrapalham a navegação. Os cientistas temem que a crescente acidez da água do reservatório possa corroer as turbinas da usina. Infestações de mosquitos têm sido tão intensas que alguns assentamentos foram forçados a se mudar.
Para resolver o problema, até recentemente, mergulhadores usando serras hidráulicas especiais nadavam até mais de 20 metros de profundidade, se prendiam aos troncos de árvore submersos e os cortavam, assistindo depois os troncos serem içados para a superfície por cabos de aço. - Em um bom dia, é possível cortar de oito a dez árvores, disse Benedito Sidinei Correia de Medeiros, um mergulhador de 38 anos que, depois de cinco anos, chegou a um salário de pouco mais de R$ 800 por mês. - Você precisa ter muito cuidado lá embaixo, porque a serra pode cortar você ao meio se você soltá-la, e é tão escuro durante a estação das chuvas que não dá para ver nada. Ainda assim, ele descreveu seu trabalho como limpo e muito divertido. Apesar de os mergulhadores precisarem constantemente ficar atentos a jacarés, cobras e uma espécie em particular de árvore cuja casca é venenosa, ele também lembra de percas e botos curiosos se aproximando alegremente e o cutucando.
Mas no início deste ano, a Eletronorte, a agência do governo que administra a represa, ordenou a suspensão da remoção das árvores. As autoridades da agência dizem que as madeireiras não estavam cumprindo suas cotas contratuais e prazos de pagamento e, portanto, eles agora vêem benefícios ambientais em deixar o reservatório intacto. - A qualidade da água do reservatório melhorou nos últimos anos e, com isto, nós estamos vendo muitos cardumes de peixes se formando nestas árvores, disse Antônio Raimundo Ribeiro Coimbra, diretor de assuntos ambientais da agência. - É um ecossistema que cria um nicho para os peixes se reproduzirem, da mesma forma que acontece com um navio afundado, fornecendo ao mesmo tempo proteção contra pesca predatória.
Os madeireiros aquáticos reconhecem estarem aquém das metas de produção, apesar de dizerem que é conseqüência da recente decisão da agência de elevar o nível da água no reservatório, o que dificulta o trabalho deles. Mas eles também citam o meio ambiente em sua defesa. - Cada árvore morta que cortamos no fundo do reservatório é uma árvore viva a menos sendo derrubada na floresta, disse Rogério Corte Leal, o proprietário da principal empresa que remove a madeira. - Nós também prestamos um serviço ao mantermos o lago limpo e resolvendo um problema que não criamos.(NY Times 07/09)