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2004-09-03
Resumo: Os impactos sócio-ambientais produzidos no bioma amazônico decorrentes da atual expansão da fronteira agrícola motivada principalmente pela produção de grãos, em especial o cultivo de soja, possuem grande extensão regional e revestem-se de elevada importância, pois influenciam sobremaneira no futuro do desenvolvimento da Amazônia e no quadro econômico referente aos commodities. Este processo merece uma ampla discussão por parte da sociedade brasileira em virtude de suas demandas para consolidação de infra-estrutura do sistema de produção, pelo estabelecimento de uma capilaridade de ocupação territorial que consolida as novas fronteiras, pela replicabilidade e expansão do sistema de latifúndios, pela intensidade da transformação de paisagens, bem como na geração de conflitos entre grandes produtores com populações indígenas e tradicionais, e o potencial impacto em ecossistemas naturais ainda intactos. Este padrão de ocupação e uso da terra impõe, necessariamente, uma reflexão e posicionamento por parte da comunidade acadêmica, que tendo como base informação e conhecimento científico sólidos, deve analisar pontos importantes e resolver questões estratégicas como, por exemplo, se os padrões de uso e mudança da terra e critérios de sustentabilidade dos modelos agrícolas reproduzidos de outras regiões brasileiras podem ser compatíveis com a especificidade da floresta tropical úmida da Amazônia, entre tantos outros temas de interesse.

Dentro do segmento de ciência e tecnologia, um dos desafios do setor ambiental da Amazônia não está necessariamente em evitar o desmatamento a qualquer custo, mas na falta de informações sobre o potencial da floresta e os benefícios que podem trazer seus recursos naturais. Com mais C&T, o país poderá contar com subsídios técnicos para planejar melhor, pois a preocupação com o meio ambiente exige um conhecimento adequado da composição e funcionamento dos ecossistemas e as conseqüências causadas pelos diferentes processos de alteração. Neste contexto, o MPEG motivado por recentes posicionamentos em encontros técnico-científicos e discussões na mídia nacional achou necessário estimular a manifestação articulada das instituições públicas sobre este assunto. Decidiu, então, se unir a Embrapa e a Amigos da Terra para juntos organizarem o seminário Geopolítica da Soja na Amazônia. O debate cientifico foi pautado na identificação dos caminhos e história da expansão da soja, na discussão sobre os principais aspectos agronômicos e ecológicos associados à expansão da soja e aos aspectos fundiários e de gestão de território.

Espero que este documento, um extrato da inteligência científica sobre o tema apresentado por mais de 16 painelistas e debatedores, sirva como fonte de consulta e debate. Devo ressaltar a importância das instituições públicas em enfatizarem nos seus respectivos documentos de estratégia e metas um espaço especial de produção de conhecimento científico deste processo de mudança e uso da terra, pois nunca se observou taxas tão elevadas de transformação de floresta primária e de perdas significativas de biodiversidade como observamos nestas últimas décadas na Amazônia - considerada como a última grande fronteira da humanidade. Este debate resultou na construção de um documento consensual sobre os desafios e soluções da C&T para este tema, que trata sem sombra de dúvida de um dos mais importantes tópicos atuais ligados às questões sócio-ambientais do país.
Instituição: Embrapa e Amigos da Terra Amazônia.
Autor: Peter Toledo.
Contato: www.museu-goeldi.br

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