Pesquisador faz crítica a demora da liberação dos transgênicos
2004-09-01
Demora e desinformação. Estas foram as principais críticas que o pesquisador na área de biotecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa/Milho e Sorgo), Edilson Paiva, fez ontem, durante a palestra —Diagnósticos e prognósticos do milho transgênicos no mundo e no Brasil—, que proferiu no segundo dia do XXV Congresso Nacional de Milho e Sorgo, realizado no Centro de Eventos Pantanal, em Cuiabá.
—Há uma verdadeira guerra de desinformação sobre este complexo assunto, que envolve debates e conhecimentos na área de ciências, sociologia, política, economia e geopolítica, e o saldo disso é a banalização, e o anúncio de mentiras e meias-verdades—, critica Paiva.
No caso do milho, o pesquisador conta que não há autorização alguma do governo Federal para que os experimentos de biotecnologia possam sair do laboratório e serem testados a campo. —O que faz o País como um todo perder competitividade, e mais agravado ainda, porque temos tecnologia e não podemos utilizá-la—, lamenta Paiva.
Em oito anos de plantio de Organismos Geneticamente Modificados (OGM´s) existem 80 milhões de hectares (ha) no mundo cultivados, com as três principais culturas milho, soja e algodão. —Mesmo proibido, no Brasil existe uma estimava de que três milhões de ha estejam semeados com soja transgênica, o que obrigou o governo brasileiro a se adequar a realidade com a edição de duas medidas provisórias—, explica.
Paiva aponta que há seis anos o Brasil já poderia ter milho transgênico resistente a herbicidas e insetos e com o retardo e o —imbróglio, acredito que demoremos mais uns quatro ou cinco anos para ter o milho OGM, em escala, assim que for liberado—, analisa.
Com argumentos semelhantes aos utilizados em prol da soja e do algodão OGM, Paiva destaca a redução de custos e maior competitividade para o milho OGM. —Nesta cultura, há ganho na produtividade de cerca de 20% a 40% e redução de custos de 10% a 15%. Sem falar na contribuição para o meio ambiente com menos aplicações de agroquímicos—, aponta Paiva.
Cerca de 85% da soja norte-americana é transgênica, —lá os produtores têm custos menores e subsídios do governo para plantar e cultivam OGM. No Brasil além da demora no repasse de financiamentos às safras, sobram problemas aos produtores, como logística e armazenagem. Ao governo brasileiro falta visão estratégica para o setor produtivo, estamos sempre correndo atrás e a mercê de multinacionais—, alerta.
Segundo Paiva, a criação de uma comissão ministerial, composta por quinze membros, a Comissão Nacional de Biossegurança, pode retardar, ou atrapalhar a liberação das demandas da biotecnologia. —A CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) é formada por pessoas idôneas e conhecedoras do assunto, mas mesmo que os projetos sejam aprovados pelo crivo desta comissão, será preciso passar para outra, que tem poder de vetar aquilo que cientificamente está autorizado como seguro do ponto de vista ambiental e nutricional. Um exemplo clássico desta demora, é com relação ao algodão, além de perdemos mercado, vamos acabar importando algodão transgênico, pela demora em sua liberação—, protesta Paiva. (Diário de Cuiabá, 31/08)