Agronegócio brasileiro mistura modernidade técnica com atraso social
2004-08-31
Com clima privilegiado, solo fértil, disponibilidade de água, rica biodiversidade e mão-de-obra qualificada, o País é capaz de colher até duas safras anuais de grãos. Nenhuma nação teve crescimento tão expressivo na agropecuária quanto o Brasil nos últimos anos. Em 2003, gerou superávit comercial de US$ 25,8 bilhões. As palavras são do Ministério da Agricultura e correspondem aos fatos. Porém, há uma série de questões pouco debatidas: Como se distribui a riqueza gerada no campo? Que impactos o agronegócio causa na sociedade, na forma de desemprego, concentração de renda e poder, contaminação da água e do solo (já que promove o uso intensivo de agrotóxicos) e destruição de biomas? Quanto tempo essa bonança vai durar, tendo em vista a exaustão dos recursos naturais? O descuido socioambiental vai servir de argumento para a criação de barreiras não-tarifárias, como a que vivemos com a China na questão da soja contaminada?
O balanço de perdas e ganhos do agronegócio é negativo à sociedade brasileira principalmente porque seu modelo reforça a estrutura de dominação das elites, diz Guilherme Delgado, economista do Ipea, órgão ligado ao Ministério do Planejamento. - O agronegócio brasileiro mistura a modernidade técnica com o atraso das relações sociais. A sociedade brasileira está acostumada a crescer sem assimilar o pessoal de baixo.
Para esta safra, os recursos poderão chegar a R$ 800 milhões, dependendo da demanda pelos agricultores. Ainda assim, a desigualdade entre a assistência dada a grandes e pequenos produtores é gritante. Diante da alta dos custos dos insumos e da queda nos preços das commodities agrícolas que o País exporta – o que deve levar a uma desaceleração do PIB agrícola este ano, segundo a Confederação Nacional da Agricultura – o ministro Roberto Rodrigues já está articulando maneiras de atender os produtores e evitar que o espetáculo do crescimento, pelo menos o do agronegócio, não esmoreça. O ministro parece pouco preocupado com os impactos ambientais da produção agrícola em larga escala. Lembra que o Brasil ainda tem 90 milhões de hectares de terras agricultáveis e cita estudos do setor de fertilizantes segundo os quais grande parte da expansão da agricultura se dará em áreas atualmente ocupadas por pastagens. Quando questionado sobre quanto vai durar a exploração dos recursos naturais do Brasil na agricultura e a exportação dos produtos agrícolas que prejudicam o equilíbrio ecológico gratuitamente, ele disse que as tecnologias de hoje garantem a sustentabilidade, não exaurem os recursos naturais e o assunto da preservação fica garantido. (Carta Capital, 30/08)