Defesa do meio ambiente une representantes de várias religiões na Bahia
2004-08-30
Representantes do budismo, do judaísmo, da Igreja Católica, da Igreja Batista e do candomblé unidos em torno de um mesmo objetivo. Uma mesa-redonda sobre o ecumenismo ecológico marcou, ontem de manhã, a programação do VII Festival Internacional de Alabês, Xicarangomas e Runtós. O encontro, que começou anteontem à noite e homenageia os 65 anos de iniciação religiosa de mãe Stella de Oxóssi, prossegue até este domingo no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em São Gonçalo do Retiro. Uma das participantes da mesa, a Lama Bhikkuni Zamba Chozom, adepta do budismo tibetano, afirmou considerar extremamente benéfica a discussão, já que, na opinião dela, as pessoas precisam se educar melhor quando o assunto é o meio ambiente. —Temos que aprender a respeitar a natureza como um dos principais valores da nossa vida. Caso isso não aconteça, teremos cada vez mais problemas, conflitos e escassez de recursos naturais—, disse Bhikkuni Zamba. Ela cita como reflexo desse mau uso dos recursos naturais problemas de distribuição da água, períodos de seca, inundações e desmatamento em países como a China.
—Acho que os homens promovem ações tendo em vista apenas um benefício limitado, sem pensar em suas conseqüências. É o mesmo problema no mundo inteiro—, opinou a religiosa. Ao lado de Bhikkuni Zamba, representantes de outras religiões, como o judaísmo. —Acho importante que nós tenhamos um lugar em comum para que cada religião possa deixar sua mensagem, especialmente num mundo com tantas agressões—, afirmou o rabino Ary Glikin. Ele ressaltou que o livro sagrado do judaísmo, o Torah, faz referência ao ecumenismo e à consciência ecológica. A idéia de realizar um debate sobre ecumenismo ecológico no Alaiandê Xirê foi possível, segundo a diretora de produção do encontro, Ana Rúbia de Melo, devido à postura de respeito às diferenças de mãe Stella. —Além disso, tanto o judeu, quanto o islâmico, o católico e o budista bebem água e respiram, então a ecologia por si só já é ecumênica—, diz, destacando que este ano é de Oxóssi, orixá considerado o padroeiro da ecologia. —Oxóssi é o orixá essencialmente caçador, mas não predatório. Ele sabe que precisa oferecer algo à natureza para que ela possa consentir que ele retire algo dela. É um processo de interação subordinada a uma ética preservadora—, afirmou o iperilodé e ogã de Oxóssi do Ilê Axé Opô Afonjá, Luís Austregésilo.
Para além de Oxóssi, o candomblé como um todo está ligado à ecologia, segundo Austregésilo. —O candomblé é indissociável da preservação da natureza porque o fundamental em sua essência é a compreensão do que há de sagrado em tudo aquilo que pertence à natureza. Muito antes da palavra ecologia existir, já cultuávamos o ar, o vento, as águas em sua diversidade, os minerais e metais—, explica. Outro integrante da mesa-redonda, o padre Arnaldo Lima Dias, da Igreja Católica, também defendeu a importância do discussão. —Lutar pela ecologia é um dever de todo cristão—, disse. Também participaram da mesa a ialorixá Giselle Cossard (RJ), o babalorixá José Flávio Pessoa de Barros (RJ), a Irmã Judith Mayer (BA), os representantes da Igreja Batista Edmilson Cunbha (PR) e Djalma Torres (BA) e Ida Apor, da Confederação Israelita do Brasil. A mesa sobre ecumenismo ecológico começou às 10h30. Mais cedo, às 9h, houve as conferências Exu, o Senhor das profundezas da alma e Oxóssi - o padroeiro da ecologia. À tarde, a programação incluiu uma mesa-redonda sobre Exu, o Senhor das Artes cênicas: o mensageiro que está acima do bem e do mal e Exu, o Dionísios africano e a arte como elemento purificador. (Correio da Bahia on line, 27/08)