Trabalhadores sofrem de doenças adquiridas no contato com as fibras de amianto
2004-08-30
A morte de Gildevan Sena, de 22 anos, em 1992, com mesotelioma – câncer na pleura, chamou a atenção da equipe médica do Hospital das Clínicas. Tratava-se de um tipo de câncer relacionado com a exposição às fibras minerais extraídas de rochas de amianto. O jovem, que estudava História na Universidade Federal da Bahia, era filho de um ex-trabalhador da mina de São Félix do Amianto, explorada pela Sama Mineração de Amianto, no sudoeste do Estado.
No relato aos médicos lembrou a infância pobre com a família nas proximidades da mina, que pertencia, na época, ao município de Poções. Nas brincadeiras de criança, perto da mina, ele se expôs à poeira do amianto, um agente carcinogênico de alta periculosidade. Seus pais nada sabiam do risco que corria e, do mesmo modo, também estavam expostos, principalmente o pai, que era minerador. Nem os pais, nem as centenas de operários que trabalharam durante os 27 anos de atividade da mina.
A história dele terminou tragicamente. Era jovem e conseguiu chegar à universidade apesar da sua origem humilde. Sua morte abalou a família, consternou os colegas, mas trouxe um importante alerta médico. A exposição contínua ao amianto pelos ex-trabalhadores da mina, familiares e moradores da região, somada aos 2.500 ex-trabalhadores da Eternit, que produz artefatos de amianto, em Simões Filho, desde 1967, revela um quadro de epidemia invisível de câncer. (A Tarde, 28/08)