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2004-08-27
A participação de empresários do turismo, pescadores e surfistas nas discussões sobre as novas regras de utilização da Ilha dos Lobos, em Torres, no Litoral Norte, revelaram um lado sombrio da proteção ambiental: cada grupo defende um modelo de exploração, rigorosamente compatível com seus interesses.

Em julho, o Ibama acabou optando por enquadrar a reserva na categoria Refúgio da Vida Silvestre. O status procura conciliar o turismo com a necessidade de garantir tranqüilidade aos lobos e leões-marinhos, que fazem da área ponto de descanso em suas jornadas pelo Atlântico Sul. A polêmica dividiu Torres. Durante as audiências públicas, pescadores defenderam a liberação da pesca amadora na região, empresários do turismo reivindicam o livre-trânsito de barcos e surfistas querem a permissão para o uso de jet ski na área ao redor da ilha, a despeito do transtorno que estas práticas podem trazer aos animais.

Pelo menos duas reivindicações poderão ser contempladas com a nova categoria: os passeios de barco de turismo e a prática do surfe, o que não foi suficiente para contentar a todos. — Vejo uma união muito forte entre os ecologistas. Mas eles não conseguem ver o lado do desenvolvimento. O Ibama esqueceu que existe a categoria de Área de Proteção Ambiental, afirma Marcelo Müller, representante das entidades de turismo, defendendo um outro modelo, menos rigoroso. O movimento ambientalista, encabeçado pela ONG Sea Shepherd, que durante as reuniões defendeu a classificação de Reserva Biológica - o que tornaria toda a região completamente inacessível - também criticou a nova categoria.

Os interesses de cada um:
Entidades de turismo

Mesmo com a possibilidade de serem contemplados no plano de manejo, com a liberação dos passeios de barco e o mergulho, os empresários preferem a classificação de Área de Proteção Ambiental (APA), que seria ainda menos restritiva do que o atual modelo. O representante da categoria, Marcelo Müller, acredita que os animais não seriam prejudicados, já que não utilizam a área para reprodução, apenas para descanso.

Ambientalistas

Preferem a classificação de Reserva Biológica - o que tornaria não apenas a ilha, mas também a área marítima ao redor inatingíveis. Segundo a bióloga Sandra Severo, diretora-executiva da ONG Sea Shepherd, os motores de barcos e jet ski espantam os animais, que procuram a ilha para descansar:

Pescadores

Na elaboração do plano de manejo, eles esperam obter a liberação da pesca amadora ao redor da ilha. Segundo o Ibama, essa possibilidade está fora de cogitação. Miguel Batista da Silva, presidente do Sindicato dos Pescadores de Torres, argumenta que os barcos ficariam ancorados, com motor desligado, para não perturbar os animais. Além disso, não seriam utilizadas redes, apenas três anzóis para a pesca de anchova, garoupa e pampo.

Surfistas

Comemoraram a decisão do Ibama. Para Zeca Scheffer, presidente da Associação Gaúcha de Tow-In, o modelo é razoável por ter conciliado critérios de proteção com a prática do surfe, que provavelmente será regulamentada, com restrições, no plano de manejo.

- O Ibama fez um grande trabalho, adiantou-se e fez essa recategorização em um prazo supercurto - avaliou.

Por que a região é importante

Considerada a menor reserva ambiental do planeta, a Ilha dos Lobos é um dos raros locais freqüentados por lobos e leões-marinhos no Brasil. A área serve de passagem para essas espécies, que durante o verão se reproduzem no Uruguai e na Argentina e no inverno migram para o Norte.

Por que há polêmica

Em novembro de 2003, o Ambiente abordou a queixa de ambientalistas de que estava sendo praticado o surfe com jet ski (modalidade conhecida como Tow-in) na área próxima à Ilha dos Lobos. A prática estaria violando as regras do Ibama e incomodando os animais. Diante de protestos, os surfistas concordaram em cessar a atividade por algum tempo.
Para que mudar o status da reserva
A categoria da unidade de conservação é o que determinará o quanto ela será protegida. Batizada de Reserva Ecológica da Ilha dos Lobos desde 1983, quando foi criada, a região precisou se adaptar ao novo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). A necessidade de modificação coincidiu com a briga de interesses pela exploração da ilha. Entre as novas categorias previstas pelo Snuc, o Ibama optou por Refúgio da Vida Silvestre.

O que acontecerá agora

A nova categoria deverá ser oficializada em três meses. A próxima etapa será a elaboração do plano de manejo, o conjunto de orientações que estabelecerá, dentro dos critérios da categoria, quais e de que forma as atividades serão liberadas. (ZH, 26/08)

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