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2004-08-18
É um formigueiro com mais de 800 mil habitantes. Com problemas de poluição, consumo elevado e desmatamento, as cidades de Taguatinga, Ceilândia e Samambaia formam um conglomerado urbano que representa um desafio para administradores, pesquisadores e comunidades locais. Uma pesquisa realizada na Universidade de Brasília aponta os desafios de crescimento sustentável nas três cidades. De autoria do doutor em Ecologia Genebaldo Freire Dias, o estudo chega a uma conclusão impressionante: para suportar a demanda de quase um milhão de habitantes, a área urbana das três grandes irmãs deveria ser 130 vezes maior. Ou seja, seriam necessários três Distritos Federais para Taguatinga, Ceilândia e Samambaia terem um crescimento sustentável. E de que a qualidade de vida está cada vez mais prejudicada.

Com um elevado nível de consumo de água, luz, alimentos e combustíveis em 140 mil hectares de território sobre o cerrado hoje inexistente, as três cidades representam o descompasso entre a falta de planejamento urbano e o crescimento populacional, que acaba pondo em risco a qualidade de vida da população. —Isso aqui está ficando difícil demais—, comenta a vendedora de cosméticos, Angélica Guimarães, 34 anos. Todos os dias, ela enfrenta dentro do ônibus o congestionamento entre Taguatinga e Samambaia para levar as encomendas da freguesia. O objetivo do estudo, inédito na região, é comparar o total de habitantes com o nível de consumo, produção e meio ambiente. A pesquisa procurou identificar o impacto dos habitantes e suas necessidades sobre os recursos naturais disponíveis — o ar, a água e o subsolo.

—Trata-se de uma amostra do que está ocorrendo em outros centros urbanos, em maior e menor proporção—, comenta Genebaldo, que também é professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) e coordenador de Educação Ambiental do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), no Parque Nacional de Brasília. Segundo ele, como essa situação se repete em várias partes do mundo, as principais conseqüências são as alterações climáticas, que influenciam no regime de chuvas e na temperatura, por exemplo. As três cidades foram escolhidas por causa do crescimento populacional, o maior do DF em 15 anos. De acordo com a Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central (Codeplan), tem sido de 2,8% ao ano. A pesquisa acompanhou a dinâmica urbana em 1994, em 1997 e 2003. Os dados do ano passado, aos quais o Correio teve acesso, estão em fase preliminar de análise. —Não há dúvida de que está havendo perda na qualidade de vida da população—, afirma Genebaldo. —É preciso investir em reciclagem, reutilização de produtos e na redução do consumo—, comenta.

O centro de Taguatinga, onde a pesquisa identificou mais de 80 mil carros indo e vindo diariamente das 6h às 18h, é uma prova clara da concentração de poluentes — fumaça, gases e fuligem de centenas de ônibus e veículos em circulação com motores desregulados. —Há 15 anos respiro isso, minha filha—, diz o aposentado Pedro Leite, 66 anos. Com uma jornada de trabalho de dez horas, de segunda a sexta-feira, ele vende balas e doces a pouco menos de cinco metros da pista. A cada acelerada de ônibus no ponto, um pó escuro voa sobre a barraca de plástico amarelo do vendedor.

Um dia sem carro

No dia 22 de setembro, milhares de moradores de centros urbanos no mundo deixarão o carro na garagem. Promovida há quatro anos, a Jornada Brasileira Na cidade sem meu carro é uma iniciativa mundial, que começou na França, e até o ano passado havia conquistado a adesão de 33 cidades brasileiras. Segundo a coordenadora do 22 de setembro no Brasil, Maílla Soares, da organização não-governamental Rua Viva, de Belo Horizonte (MG), cerca de 40% da poluição atmosférica urbana é causada por veículos automotores particulares. —Nosso objetivo é sensibilizar o cidadão sobre a importância do transporte coletivo e estimular a prática do transporte solidário, da moto, da bicicleta e das caminhadas—, explica. (Correio Brasiliense, 18/08)

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