Pesquisa faz queimada controlada em floresta maior que 100 campos de futebol
2004-08-17
Uma área de floresta maior que cem campos de futebol no ecossistema mais ameaçado da Amazônia foi deliberadamente incendiada ontem em Querência, Mato Grosso. Mas, desta vez, não se trata de tragédia ambiental. A queimada faz parte do maior experimento do gênero já feito numa selva tropical, e seu objetivo é justamente entender como evitar um desastre -a conversão da mata em cerrado por efeito do fogo. A experiência é resultado de uma parceria insuspeita, entre uma ONG ambientalista e o maior grupo produtor de soja do mundo. Na fazenda Tanguro, uma área quase do tamanho do município de São Paulo pertencente ao Grupo Maggi, pesquisadores do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) estão iniciando um projeto de seis anos para verificar a resistência ao fogo da chamada floresta de transição, no meio do caminho entre cerrado e Amazônia.
Andando entre as labaredas enquanto técnicos ateavam fogo com tubos de querosene, o ecólogo Daniel Nepstad, do Ipam e do WHRC (Woods Hole Research Center, nos EUA), resumiu: —Para mim, isso é o que você precisa fazer para poder combater as queimadas e prever onde elas estarão. Claro, além de ser muito legal—. O americano Nepstad é o coordenador científico do projeto, batizado de Experimento de Savanização. Os números do programa são superlativos: ao longo desses seis anos, três parcelas de mata de cem hectares cada uma serão queimadas sucessivas vezes pelos cientistas, a intervalos variados. Os 300 hectares a serem incendiados -de forma controlada- são uma parte bem pequena da área da fazenda: 81,5 mil hectares. (Folha de São Paulo, 17/08)