Onda de calor será mais intensa em 2080
2004-08-16
O futuro é quente, mas no sentido trágico da palavra. Uma análise publicada na revista Science (www.sciencemag.org) mostra que as ondas de calor no hemisfério Norte -como a que matou 20 mil pessoas na Europa em 2003 - serão mais freqüentes e longas no fim do século. O estudo foi realizado pelos climatologistas Gerald Meehl e Claudia Tebaldi, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos (NCAR, na sigla em inglês). Eles usaram o mesmo modelo climático aplicado pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) em seu último relatório, publicado em 2001. Primeiro, os dois testaram a eficiência do modelo na explicação de temperaturas verificadas entre 1961 e 1990 na América do Norte e na Europa - uma espécie de previsão do tempo de trás para a frente. Depois de obterem resultados próximos dos reais, projetaram eventos entre 2080 e 2099 inseridos em um quadro no qual nada muda nas políticas públicas ambientais em todo o mundo. — Esse cenário assume que, durante o século 21, nós continuaremos a nos portar da mesma maneira em relação o uso de energia, ao crescimento da economia e ao aumento da população, disse Meehl. Os cientistas até analisaram se alguns poluentes encontrados na atmosfera, como aerossóis, poderiam refletir a luz solar e diminuir o ritmo do aquecimento da Terra, mas não tiveram o resultado que esperavam.
Durante o trabalho, Meehl e Tebaldi focaram duas vítimas notórias das ondas de calor: Chicago, no Meio-Oeste dos EUA, e Paris, França. Em 1995, temperaturas altas mataram 739 pessoas na cidade americana, além de arruinar plantações. No ano passado, o verão europeu registrou mais de 40C, devido ao aquecimento anormal do Mediterrâneo. O calor matou quase 15 mil pessoas na França - a maioria idosos e pessoas de saúde debilitada. Hoje, a duração média de ondas de calor na capital francesa varia de 8 a 13 dias. Segundo o estudo, ela pulará de 11 a 17 dias, e o evento ocorrerá duas vezes por ano a partir de 2080. O mesmo pode ocorrer em Chicago, onde as ondas de calor devem ter um dia a mais: nove, em vez de oito.
Os resultados mostram que o aumento da absorção de calor causado pelos gases-estufa intensifica um padrão de circulação atmosférica incomum já observado na Europa e na América do Norte. Esses gases formam uma capa sobre a Terra, que impede o calor de fugir para o espaço.
Novas regras
— O fato de o modelo representar bem condições associadas a esses dois casos [Chicago e Paris] não garante que funcione em outras regiões, afirma o climatologista Chris Forest, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Ondas de calor são eventos extremos, causados quando um bloqueio na atmosfera, como uma elevação da pressão, impede que a umidade chegue a determinado local. Os dias são claros e quentes e as noites são menos frescas do que normalmente. — Os gases-estufa forçam a atmosfera a agir sob novas regras expostas claramente em eventos climáticos extremos como ondas de calor, diz a climatologista Leila Vespoli, da USP. Para Meehl, as ondas de calor podem matar mais pessoas em um período de tempo mais curto do que quase qualquer outro evento climático. (FSP 13/08)