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2004-08-11
As reportagens da grande imprensa sobre o recente escândalo das furtivas atividades de espionagem da Kroll Associates envolvendo círculos empresariais e, até mesmo, membros do governo brasileiro, têm deixado de fora não somente as origens da Kroll como também importantes conexões que ela possui nos centros de poder de Washington e Londres. As que nos interessam mais de perto são aquelas mantidas com o aparato ambientalista internacional, ou suas conexões verdes.
No início da década de 1970, os governos da Grã-Bretanha e dos EUA iniciaram um importante processo de privatização de parte de suas atividades de inteligência, em grande medida, com o propósito de efetuar certas operações clandestinas e sensíveis sem o risco de comprometer as agências oficiais e seus respectivos governos. Neste contexto, surgiram, entre várias outras empresas, a Kroll Associates estadunidense, fundada em 1972, e o Control Risks Group (CRG) britânico, em 1974. Além de intercambiar quadros com freqüência, os efetivos destas empresas são recrutados entre funcionários das diversas agências de inteligência e forças especiais dos dois países – CIA, DIA, FBI, MI-6, MI-5, SAS etc. Embora nominalmente privadas e efetuando uma série de serviços para contratantes essencialmente privados, seus funcionários mantêm estreitos vínculos com as instituições de origem, promovendo com elas um ativo e mutuamente lucrativo intercâmbio de informações.

Um estudo do analista Duncan Campbell, intitulado Marketing the New Dogs of War (Comercializando os novos cães de guerra), descreve assim a atuação das empresas britânicas:
Quando um serviço é bastante sensível... a rede de exército privado pode assumir o trabalho. Nada deve ser escrito em registros governamentais. Se necessário, oficiais do SAS (Special Air Service) podem ser e têm sido retirados da folha de pagamento do governo, retornando depois que o serviço for feito. No extremo do mesmo espectro, encontram-se serviços privados efetuados puramente para contratantes comerciais. Mas, mesmo assim, é da natureza da rede que o SIS (MI-6) e, se for apropriado e necessário, a CIA, são mantidos informados, de acordo com ex-oficiais de inteligência.
O caso de Frank Holder, diretor mundial de investigações da Kroll, que tem defendido a lisura dos métodos investigativos de sua empresa em declarações à imprensa brasileira, é igualmente emblemático. Oficial de inteligência da Força Aérea dos EUA, no início da década de 1990, ele foi transferido para o Departamento de Assuntos Latino-americanos da CIA, em cuja condição serviu na embaixada estadunidense em Buenos Aires. Ali, segundo uma reportagem publicada na revista chilena Qué Pasa de 9 de junho de 2002, uma de suas funções principais foi supervisionar o desmantelamento do projeto do míssil balístico Cóndor II, um dos principais objetivos da campanha de apartheid tecnológico movida pelos EUA contra os programas de desenvolvimento científico-tecnológico avançados da Argentina e do Brasil, na década passada. Fluente em espanhol e português, ele desligou-se do serviço ativo, mas permaneceu em Buenos Aires, onde fundou a empresa de consultoria Holder Associates, que foi adquirida pela Kroll em 1998.

Segundo a Qué Pasa, pouco depois de sair da CIA, Holder começou a recrutar antigos companheiros, bem como pessoal de outras agências de inteligência dos EUA e, em 1995, os incorporou à empresa Kroll Associates. Por outro lado, afirma, fontes de inteligência, tanto no Chile como na Argentina, afirmam que a Kroll Associates é uma empresa que continua vinculada à inteligência norte-americana ou é uma cobertura para atividades da CIA no Cone Sul, agregando que suas atividades vão além da simples espionagem industrial... a empresa – com filiais no Brasil, México e Venezuela – é conhecida nos círculos de inteligência da região como a CIA privada. Por sua vez, o CRG está instalado no Brasil desde 1997, com um escritório em São Paulo (SP), que coordena os interesses da empresa em todo o Cone Sul. A maioria de seus fundadores veio do SAS, destacando-se entre eles o major David Walker, que, na década de 1980, se envolveria nas operações do tenente-coronel Oliver North no esquema Irã-Contras, e seu colega Arish Turtle, que se transferiria depois para a Kroll Associates. Ainda hoje, o SAS continua sendo uma importante fonte de recursos humanos para o CRG.
Uma significativa interface das operações do CRG ocorre com o aparato ambientalista internacional, o que mostra a extensão e abrangência dos interesses dos círculos hegemônicos representados na empresa. Um de seus enlaces é o Amazon Financial Information Service (AFIS), baseado em Oakland, Califórnia (EUA), que se apresenta como um consórcio de empresas especializadas em análises de riscos ambientais e sociais associados a projetos de desenvolvimento na América do Sul. O grupo publica uma lista vermelha dos 10 projetos considerados mais ambientalmente controvertidos da região e adverte possíveis investidores internacionais para que os evitem. Três projetos brasileiros são listados: a usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu; o gasoduto Urucu-Porto Velho; e a hidrovia Araguaia-Tocantins. No Brasil, o AFIS tem se vale da inteligência de campo levantada por ONGs como, por exemplo,o Instituto Socioambiental (ISA) e o CEBRAC, que têm desempenhado um papel central na campanha ambientalista contra os projetos de infra-estrutura no Cerrado-Amazônia.

Na edição de 10 de setembro de 2000, a Folha de S. Paulo publicou uma reportagem sobre segurança corporativa no Brasil. Um dos destaques da matéria foi o inglês Patrick McDonnell, então diretor do escritório da Kroll Associates no Brasil. Segundo a Folha, após sua aposentadoria das Forças Armadas britânicas, em 1988, McDonnell participou das operações da organização ambiental WWF de repressão à caça ilícita de elefantes e rinocerontes na África por contrabandistas de marfim. Desde 1992, McDonnell tem estudado os problemas de segurança da América Latina. Baseado em Bogotá, Colômbia, McDonnell foi o chefe do Control Risks Latin America, uma das maiores empresas de segurança do mundo.
Embora mencione a carreira de 22 anos de McDonnell no SAS, o jornal não se aprofunda nas operações africanas de seu grupo a serviço do WWF (Fundo Mundial para a Natureza), uma das principais ONGs ambientalistas do mundo. Num artigo publicado em 17/12/1997 no jornal holandês De Groene Amsterdammer, o jornalista Reni Zwaap comenta o caso, revelado por uma investigação ordenada pelo então presidente sul-africano Nelson Mandela ao juiz Mark Kumleben: Mandela ficou alarmado por artigos e documentários de televisão sobre as atividades de uma espécie de exército privado do WWF na África do Sul, que, sob o codinome Projeto Lock, estava semeando a morte e a destruição entre a população negra da África do Sul e seus estados vizinhos. Aparentemente, o Projeto Lock foi uma iniciativa privada do príncipe Bernardo, que dirigia o poleiro no WWF até o escândalo Lockheed, após o qual ele permaneceu como um poder de bastidores, mesmo se apenas pelo seu controle do supramencionado Clube 1001.

No curso de sua investigação, Kumleben tropeçou numa vastamente ramificada rede internacional de espiões e interesses econômicos, que, via WWF, havia assumido o controle - sob o disfarce da proteção da natureza - de grandes pedaços de habitats protegidos. Utilizando estas áreas como base, sob a bandeira do combate à caça ilegal e de infiltrar os círculos de caçadores ilegais, todos os tipos de atividades foram deslanchadas, primariamente por mercenários recrutados na Grã-Bretanha... Kumleben também tropeçou em várias indicações que apontavam o envolvimento de mercenários do Lock em ataques a membros do CNA (Congresso Nacional Africano). Em vários parques naturais na África do Sul, estes mercenários, endurecidos veteranos que, por exemplo, tinham experiência em caçar membros do IRA (Exército Republicano Irlandês), estabeleceram centros de treinamento onde vários movimentos de libertação africanos foram treinados. Membros do Lock também teriam estado envolvidos em várias tentativas de assassinatos contra a população do Sul da África, no contexto de um processo de desestabilização.

As conexões verdes no Brasil

No rastro do caso Kroll-Opportunity, se constata que um dos principais assessores de Daniel Dantas, dono da Opportunity, vem a ser o advogado Francisco Antunes Maciel Müssnich, sócio do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão. Müssnich é conhecido como um habilidoso negociador de casos envolvendo empresas com problemas societários e seu escritório tem assessorado ativamente várias empresas do setor de telecomunicações.
Acontece que Müssnich é também membro do conselho diretor do WWF-Brasil, atualmente presidido pelo ex-presidente da filial brasileira do Citibank, Álvaro Antonio Cardoso de Souza, atualmente assessor sênior da British Gas para a América Latina. Dantas é estreitamente vinculado aos interesses do Citigroup, para quem administra alguns fundos de investimentos no Brasil. Em março de 2003, segundo a revista Istoé Dinheiro (12/03/2003), Müssnich foi contratado pela empresa estadunidense AES para as negociações com o BNDES envolvendo o pagamento das parcelas em atraso do empréstimo com o qual adquiriu o controle da privatizada Eletropaulo.
Só que Roger Sant, presidente da AES até bem pouco tempo, foi também presidente do Conselho Diretor do WWF-EUA por seis anos e levantou mais de 200 milhões de dólares para ajudar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a implementar sua promessa de proteger 100 milhões de acres [aprox. 42 milhões de hectares] de florestas da Amazônia - quase o triplo do que já está atualmente sob proteção, nas palavras de Katherine Fuller, atual presidenta do WWF-EUA. A promessa refere-se ao compromisso formal assumido por FHC com o príncipe Philip, duque de Edimburgo e presidente Emérito do WWF Internacional, em dezembro de 1997, por ocasião de sua visita de Estado à Inglaterra quando foi, inclusive, agraciado pela rainha Elizabeth II com o título de Cavaleiro da Ordem do Banho. Este engajamento verde da AES foi revelado pelo jornalista Lorenzo Carrasco em seu depoimento à CPI do Senado Federal sobre as ONGs, em Brasília, em 22/05/2001.

Porém, o envolvimento do ex-presidente FHC com a cúpula diretora da AES foi muito mais profundo do que aparentava. Em 1998, o Banco Mundial e o WWF formaram uma espúria parceria, a Aliança para a Conservação e Uso Sustentável das Florestas (Alliance for Forest Conservation and Sustainable Use, ou apenas Forest Alliance), à qual o Brasil aderiu imediatamente, para concretizar o projeto que, posteriormente, recebeu o codinome ARPA – Áreas Protegidas da Amazônia, com um custo estimado de US$ 395 milhões em dez anos.
Em março de 2000, o GEF (Global Environment Facility, um fundo gerido pelo Banco Mundial) aprovou a primeira fase do projeto ARPA, com duração prevista de quatro anos e a criação de 18 milhões de hectares em novas unidades de conservação na Amazônia Legal, bem como a criação de um fundo de financiamento para o custeio das novas áreas protegidas. Segundo documentos do próprio WWF, o objetivo final do programa é manter 50% da Amazônia brasileira sob proteção legal, leia-se, impedidos de ter qualquer desenvolvimento econômico que não seja o primitivo extrativismo, aí incluindo-se as reservas indígenas da região. O ex-presidente FHC retribuiu tamanha generosidade de Sant-WWF criando o maior parque de florestas tropicais do mundo, o Parque Nacional das Montanha de Tumucumaque, no Amapá, com nada menos que 3,9 milhões de hectares. (Alerta Verde, 10/08)

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