Balanço Ambiental: bom exemplo ou marketing?
2004-08-11
Por Carlos Matsubara
Grandes corporações, especialmente as de alto potencial poluidor, cada vez mais investem na divulgação de suas ações em prol do meio ambiente. Mesmo não obrigatório e inútil para as empresas que não possuem maiores passivos, é crescente o número delas que publicam balanços ambientais. É uma boa iniciativa como forma de prestar contas à sociedade daquilo que gastam (em alguns casos, verdadeiras fortunas) em ações como preservação do ambiente natural, gestão de resíduos, tratamento de efluentes, prevenção e remedição de acidentes com produtos perigosos, etc.
Como a poluição por muitas delas geradas, uma dúvida persiste no ar: Quem audita esses relatórios? Quem ou quais instituições são capazes de conferir e confirmar a veracidade das informações apresentadas? Para o professor Luis Felipe Nascimento, Doutor em Economia e Ciências Sociais na Universidade de Kassel, Alemanha e pós-Doc na Universidade de Lowell, Massachussetts (EUA), o primeiro passo seria padronizar os balanços, o que significaria atingir realmente o que é importante e fugir do marketing puro. — Há um esforço de algumas entidades para padronizar essa iniciativa das empresas. Hoje cada uma faz de um modo diferente, explica. Nascimento, que coordena o grupo de Gestão Ambiental da Escola de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), atenta para o fato de que, nem os órgãos ambientais têm precisão sobre a confiabilidade desses balanços.
Tal fato é comprovado se compararmos o total de empresas atuantes no Brasil com o número de balanços ambientais publicados. Não existe obrigatoriedade para publicação por todas as empresas nem do Balanço Patrimonial, que é um demonstrativo contábil exigido pela legislação brasileira, o que se dizer então do Balanço Ambiental, que é não obrigatório. Também não são todas as empresas que possuem ações dignas de serem publicadas, em virtude de grande parte das empresas (especialmente micro e pequenas empresas, que representam 70% da economia brasileira) estarem preocupadas, na maior parte dos casos, com questões de curtíssimo prazo, especialmente ligadas à parte financeira. Assim, as questões ambientais normalmente ficam em segundo plano.
Visao Otimista
Fernando Ben, professor do Departamento de Economia e Contabilidade da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e doutorando em Engenharia da Produção pela UFRGS, argumenta que esse quadro está começando a ser alterado e dá duas explicações:
A primeira delas seria a disseminação da cultura ambiental na sociedade, atingindo, assim, empresários e funcionários das organizações. — Dessa forma, através de medidas que em sua maioria são simples, as organizações estão agredindo menos o meio ambiente, acredita. Nesse mesmo sentido, a evidenciação de que alguns recursos naturais utilizados não duram para sempre, contribui para um consumo mais racional, implicando até no redesenho de produtos e processos para obter resultados com técnicas como ecodesign, produção mais limpa, ecoeficiência, reciclagem e outras.
A segunda provável causa seria a intensificação da ação de órgãos fiscalizadores (FEPAM, IBAMA, entre outros). A aplicação de advertências, multas e demais instrumentos punitivos, vem forçando as empresas a considerar as variáveis do meio ambiente em suas operações, sob pena de receberem sanções que, em muitos casos, inviabilizam a continuidade do negócio lucrativo.