Descoberta não deixa desculpas para se fazer transgenia na agricultura
2004-08-10
Uma nova safra de sementes turbinadas está chegando ao campo. Elas têm características especiais capazes de rivalizar com as dos produtos transgênicos, mas foram obtidas por melhoramento genético convencional. A vedete dessas novidades é uma variedade de arroz, lançada no dia 7 de julho pela Basf, em parceria com o Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga) e a empresa Rice Tec.
Tolerante ao herbicida Only, também da Basf, o arroz foi originado através de uma mutação induzida, feita nos Estados Unidos. Segundo a empresa, a variedade proporcionou, em média, 20% de aumento de produtividade em áreas infestadas pelo arroz vermelho - uma erva daninha que atinge cerca de 95% das áreas cultivadas com o grão no Rio Grande do Sul. O herbicida mata apenas esse arroz vermelho, enquanto o Clearfield, resistente, sobrevive. Trata-se de uma propriedade equivalente à da polêmica soja transgênica da Monsanto, que resiste ao herbicida da empresa.
Foi preciso vasculhar um banco genético com 84 mil tipos de arroz
Para obter um produto transgênico, os laboratórios das empresas transferem para a planta genes de outras espécies. No caso dos grãos, como soja, milho e canola, desenvolvidos pela Monsanto, o gene da resistência ao herbicida foi transplantado de uma espécie de bactéria que vive no solo. Essa mistura de genes do reino animal com o reino vegetal apavora alguns cientistas e consumidores. Embora até hoje o produto tenha se mostrado seguro para a saúde humana, o medo dos transgênicos cria dificuldades comerciais em todo o mundo.
Já o arroz Clearfield foi desenvolvido através de melhoramento genético tradicional, cruzando variedades específicas para conseguir o gene da resistência ao herbicida. Essa técnica é milenar. Só que o conhecimento genético atual permite apressar esse processo. Em vez de fazer cruzamentos a esmo com variedades selvagens em busca de uma planta resistente ao herbicida, os pesquisadores examinaram o banco genético do arroz, procurando o gene da resistência entre 84 mil tipos do grão. Com isso, em dez anos a Basf conseguiu uma variedade capaz de suportar herbicida. Pelo processo tradicional, levaria décadas.
Pesquisadores tentam há muito tempo fazer arroz com vitamina A, usando genes de outras espécies. Já Irwin Goldman, da Universidade de Wisconsin, está descobrindo características naturais das próprias plantas que podem ser estimuladas por cruzamento. Goldman achou tipos exóticos de cenouras que produzem vitamina E. Pode ser o caminho para desenvolver plantas para enriquecer a dieta em países pobres, sem engenharia genética. —Produtos como esse provam que a transgenia é desnecessária, pois é possível obter o mesmo resultado através do melhoramento convencional—, argumenta Ventura Barbeiro, do Greenpeace. É tudo o que os defensores dos transgênicos não queriam ouvir. (Época, 9 e agosto de 2004)