Ganhos sem fumo e sem venenos
2004-08-10
A experiência de Santa Cruz mostra que esse axioma nem sempre é verdadeiro. A produção de hortifrutigranjeiros sem agrotóxicos pode garantir até uma renda maior, segundo Hermany.
A história da cidade talvez ajude a entender o sucesso. A maioria dos agricultores são netos ou filhos de alemães. Falam tanto a língua de seus ancestrais que concordam dizendo ja (sim) e se despedem com auf Wiedersehen (até logo).
A obsessão da Alemanha pela produção de alimentos sem agrotóxicos não é algo distante ali -a igreja luterana funciona como uma ponte entre os dois países. O casal Clécio e Lore Maria Stüp Weber, 45, que produz verduras e geléias, estima ganhar R$ 1.700 líquidos por mês. O ganho mensal do fumo por hectare, calculado a partir da estimativa da associação dos produtores, é de R$ 606.
A produção dos Weber é vendida pelas duas lojas da cooperativa que o grupo criou (a Ecovale, da qual participam 80 famílias) e em 14 feiras que esses produtores realizam toda semana na região.
O trabalho em grupo e a organização estão no cerne da experiência, segundo Hermany. — Individualmente, os produtores ecológicos não conseguiram sobreviver porque não haveria escala. A cooperativa e a organização fazem parte da lógica ecológica. A maior dificuldade para mudar de cultura é que a safra do fumo tem compra garantida. Por isso, a saída é planejada. — A minha idéia é deixar o fumo em cinco anos, diz Marcos Hinterholz, 35. Quer trocar de cultivo para não conviver com agrotóxicos e porque não consegue contratar ninguém para ajudá-lo: — Não existe mais mão-de-obra aqui. Com as novas plantações, há também ganhos imponderáveis. O maior deles, de acordo com o agrônomo Jaime Weber, 42, é o conhecimento que os produtores passam a ter com a produção diversificada.
Erosão cultural
— A cultura do fumo causou uma erosão cultural nos agricultores. Eles recebem um pacote pronto das empresas do fumo e desaprendem tudo. Não sabem produzir sementes nem época das safras, afirma o agrônomo. Quando param de produzir fumo, têm de receber assessoria do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor para reaprender o que seus pais já haviam ensinado, mas se perdeu com a monocultura. (FSP/C1, 09/08)