Agricultor de Santa Cruz do Sul troca fumo por horta ecológica
2004-08-10
— Não quero mais produzir veneno com veneno. O agricultor Maiquel André Kloh diz isso não com a fúria dos panfletários, mas com um sorriso de quem descobriu uma alternativa de vida.
O primeiro veneno da frase é modo como Maiquel, 23, chama o fumo, que seu pai, Lauro, 50, cultiva há 42 anos.
O segundo são os agrotóxicos usados nesse tipo de lavoura. — Este é o último ano em que planto fumo. Só vou plantar coisas que vão para a mesa. E sem agrotóxico, avisa o agricultor.
Os Kloh integram um grupo de 30 famílias de produtores que já trocou ou está trocando o fumo por hortas onde não entram agrotóxicos -30 mil famílias vivem dessa cultura na região. Os motivos da troca envolvem ética, preocupações ambientais e sociais:
1- Não querem produzir algo que faça mal à saúde do consumidor e do produtor, como dizem;
2- Não querem degradar o solo com agrotóxicos e com a monocultura;
3- E não querem que o agricultor fique à mercê de um só cultivo e de um só comprador.
—A nossa idéia é mudar a escala de valores do agricultor, afirma o engenheiro agrônomo Sighard Hermany, 52, coordenador do Capa (Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor) em Santa Cruz do Sul (Rio Grande do Sul), entidade ligada à igreja luterana.
A cidade, a 155 km de Porto Alegre, é o epicentro da indústria do cigarro no país e abriga o maior complexo de beneficiamento de fumo do mundo, da Souza Cruz. O Vale do Rio Pardo, onde fica a cidade de Santa Cruz, é responsável por um quinto do fumo produzido no Brasil. (FSP/C1, 09/08)