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2004-08-09
Os cientistas do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP acabam de desenvolver um eucalipto transgênico, no qual foi inserido um gene de ervilha. Espera-se com isso que a nova planta produza mais biomassa e, portanto, mais celulose. Feito em parceria com a Companhia Suzano de Papel e Celulose e com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o projeto, coordenado pelo engenheiro agrônomo Carlos Alberto Labate, tem dois objetivos básicos. — O primeiro é desenvolver uma metodologia de transformação genética do eucalipto, explica Labate. — O segundo, é introduzir um gene na planta, que melhore seu desempenho fotossintético, isto é, sua capacidade de captar luz, e com isso aumente sua bioamassa.

Para isso, ele usou a bactéria Agrobacterium tumefaciens, que funciona como um veículo para a transferência de genes, pois ela tem a capacidade natural de transferir parte de seu material genético para o genoma da planta. Os pesquisadores inseriram em plasmídeos - moléculas circulares de DNA, que, junto ao DNA cromossômico, compõem o genoma da bactéria - o material genético que queriam transferir para o eucalipto.

Patente

De acordo com Labate o primeiro objetivo do projeto já foi atingido e resultou no pedido de registro de uma patente da metodologia de transformação genética do eucalipto. Quanto ao segundo, os trabalhos estão adiantados. —Já temos as primeiras plantas transgênicas, afirma Labate. Agora, estamos avaliando todas as característiscas fisiológicas e bioquímica dessas plantas transgênicas que obtivemos. O objetivo é verificar se o gene da ervilha produz no eucalipto os mesmos efeitos que causou no tabaco, planta na qual já vem sendo usado há algum tempo. — Plantas transgênicas de tabaco e de petúnia, nas quais foi inserido o mesmo gene de ervilha, apresentaram folhas mais largas e maior capacidade fotossintética em condições de baixa luminosidade, explica. — Acreditamos que conseguiremos o mesmo com o eucalipto.

Segundo Labate, os próximos passos do trabalho, depois de concluída a atual fase de testes em laboratório e na casa-de-vegetação, onde as plantas crescem em ambiente controlado, será transferir as mudas para o campo. — É o chamado processo produtivo, que deve ocorrer dentro de um ou dois anos, informa. — É bom ressaltar que faremos isso seguindo todas as normas da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), que fiscaliza este tipo de pesquisa. Nenhuma planta transgênica será introduzida no campo sem a aprovação da CTNBio.

Dinamismo

O domínio de uma nova tecnologia não foi tudo o que esse projeto desenvolvido em parceria com a Suzano trouxe para a Esalq. — A empresa trouxe também dinamismo para nosso laboratório, entusiasma-se Labate. — A cobrança da empresa é intensa e com isso ganhamos muito mais agilidade. Além disso, o investimento permitiu que comprássemos vários novos equipamentos, como centrífugas, freezers e câmaras de crescimento controlado. Para a empresa, a parceria também é vantajosa. Segundo Labate, ela estava interessada no domínio dessa tecnologia, mas teria que fazer investimento muito alto para equipar seu departamento de pesquisa para esse fim. Então optou pela parceria. —A Suzano adotou assim um sistema de interação com a universidade, que é comum em países com maior produção científica e tecnológica, diz o pesquisador. Segundo ele, os primeiros contatos com a Suzano foram feitos em 1997, quando um engenheiro da empresa esteve na Esalq em busca de informações sobre os avanços na área de engenharia genética. O que mostra que o desenvolvimento dessa tecnologia é estratégico para as indústrias do setor. E para o País também. Hoje, o Brasil é o maior produtor de fibra curta (de eucalipto) do mundo, mas vem sofrendo uma concorrência cada vez mais feroz de países como Malásia, Indonésia, Filipinas e China, que progridem rapidamente. Daí a importância de parcerias como essa. (Celulose Online, OESP, 06/08)

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