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2004-08-02
Pesquisadores brasileiros estão na fase final de -soletração- de dois genes extraídos de bactérias que serão inseridos no primeiro algodão transgênico criado em solo nacional. A idéia é ter as plantas disponíveis para cultivo em escala comercial em 2009. O projeto é coordenado por Roseane Cavalcanti dos Santos, da Embrapa Algodão, unidade localizada em Campina Grande, Paraíba. O trabalho é realizado com outro centro da Embrapa, o Cenargen (Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia), em Brasília. Até agora, a pesquisa teve um custo de R$ 3 milhões, com financiamento de fundações e da própria Embrapa. Santos estima que as primeiras mudas com os genes introduzidos artificialmente estejam prontas para testes de biossegurança em 2006, com um investimento de mais uns R$ 500 mil.

Os genes estudados vieram de dois microrganismos: o Bacillus thuringiensis, mais conhecido pela sigla Bt, usado em controle biológico e cujos genes integram várias plantas transgênicas, e uma bactéria do gênero Streptomyces. Esses dois genes são receitas de proteínas que, em laboratório, mostraram-se fatais para algumas espécies parasitas das plantações de algodão. —Estamos finalizando o trabalho com -genes inseticidas- que já se demonstrou terem efeito letal contra algumas lagartas e o bicudo (inseto que é o principal parasita do algodoeiro)—, contou Santos à Folha. As proteínas codificadas por esses genes foram oferecidas como alimento a larvas. —Cerca de 57% das larvas que as ingeriram morreram—, afirmou Santos. A pesquisadora também conduziu testes isolados com parasitas fêmeas, que reduziram em 47% sua produção de ovos após a ingestão.

Também já foram realizados testes limitados com mamíferos, para verificar se as proteínas tinham algum efeito tóxico. Ao menos em camundongos, a ingestão delas se mostrou segura. Os números são animadores, mas sugerem que, com o passar do tempo, as populações de bicudos e outros insetos possam se restabelecer totalmente, desta vez com resistência adicional às mudanças genéticas originalmente introduzidas no algodão. Isso não desanima os pesquisadores da Embrapa, que pretendem estar sempre um passo à frente dos inimigos do algodoeiro. —Mesmo com inseticidas comuns isso acontece. Os insetos acabam adquirindo resistência --isso é a seleção natural—, diz a coordenadora do estudo. —A nossa perspectiva é que, quando isso acontecer, a gente já tenha outros genes para introduzir, numa estratégia piramidal.—

A idéia é que as plantas sofram upgrades periódicos de seu software (o genoma, que contém as instruções genéticas para a fabricação da planta), exatamente como hoje se faz com os computadores, que recebem novos e mais poderosos programas com o passar do tempo. Quando os bichos adquirirem resistência a uma determinada proteína, o algodão já terá um outro gene para -segurar a barra-, afirma Santos. Embora esse seja o primeiro algodão transgênico desenvolvido no Brasil, a criação dessas plantas em variedades geneticamente modificadas é bastante comum. —Se não me engano, já há 19 países que plantam algodão transgênico. Os Estados Unidos têm o seu, a China, também—, diz a pesquisadora da Embrapa. (Folha on line, 01/08)

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