Ainda não sabemos se o clima está mudando na Amazônia, diz cientista
2004-07-29
— O clima esta mudando? Ainda não sabemos, afirmou a física Maria Assunção da Silva Dias, diretora do CPTEC (Centro de Previsões do Tempo e Estudos Climáticos), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Assunção e seu grupo, no entanto, têm mostrado nos últimos anos que os aerossóis vindos de queimadas alteram a microestrutura das nuvens, que se tornam incapazes de gerar chuva. Outro efeito dos aerossóis é reduzir a quantidade de luz solar que chega à superfície terrestre nas zonas afetadas por queimadas.
O climatologista Carlos Nobre, do Inpe, apresentou cenários extremos do efeito das secas sobre a floresta. Quatro modelos de cinco analisados por Nobre apontam para a savanização, ou conversão da mata em cerrado.
— A variabilidade entre os modelos é muito alta, diz. Mas a mudança extensiva na cobertura vegetal [de floresta] para pasto pode levar à savanização—. No pior cenário, diz, 60% da mata vira cerrado. E a inércia do sistema é tal que, uma vez disparada a mudança, pode ser tarde demais. — Se você chegar a observar formação de savana, já é um ponto sem retorno. O pesquisador alemão Meinrat Andreae, do Instituto Max Planck de Química, descobriu outro efeito curioso -e potencialmente dramático- das queimadas sobre a química atmosférica: elas produzem gigantescas nuvens que soltam fumaça. Essas nuvens, chamadas pirocúmulos e detectadas em Rondônia em 2002, se formam a partir de partículas muito pequenas de aerossol de queimadas. Tão pequenas que as gotículas que se condensam ao redor delas não precipitam. Diferentemente das nuvens típicas da Amazônia, que são pequenas, produzem chuva e se dispersam, os pirocúmulos são enormes e não se dispersam. (Folha online, 28/07)