Pesquisador alerta para risco de savanização da Amazônia
2004-07-27
O desmatamento e as queimadas na Amazônia estão modificando o clima na região e agravando o efeito estufa, alertaram cientistas no primeiro dia da 3ª Conferência Científica do LBA (sigla em inglês para Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia). No Brasil, o desmatamento acelerado ameaça reduzir o ciclo de chuva no Sul e no Sudeste, transformar grandes áreas de florestas em savanas e provocar alterações na taxa de umidade na Amazônia.
A conferência reúne, até quinta-feira em Brasília, cerca de 800 cientistas do Brasil e do exterior, discutindo a transformação dos ecossistemas amazônicos e sua influência clima global. Os pesquisadores envolvidos no experimento do LBA se reúnem a cada dois anos para divulgar suas descobertas e debater a melhor maneira de incorporar os resultados dos estudos na formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável da região.
Compreender o papel da Amazônia no equilíbrio ambiental, alertam os cientistas, é uma questão estratégica.
Em sua palestra sobre interações entre clima e vegetação na Amazônia, o pesquisador do Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador do LBA, Carlos Nobre, foi enfático ao afirmar que a mudança do clima na Amazônia é um fato. Ele informou que o que se busca saber —é em que escala isso está acontecendo—. Nobre ressaltou que o clima em regiões desmatadas tem uma variação de até três graus em sua temperatura máxima.
Segundo o pesquisador, já existe uma tendência de alteração em 15% da Amazônia brasileira, mas ainda não é possível afirmar categoricamente seu real impacto, uma vez que a alteração está espalhada pelos seis milhões de quilômetros quadrados da Amazônia Continental.
- Se a alteração fosse concentrada em um único lugar já estaríamos vendo mais mudanças - explicou. - Se nosso conhecimento físico estiver correto, de que o desmatamento de grandes proporções pode levar à diminuição da chuva e ao aquecimento global, os cenários apontam para uma savanização da Amazônia no prazo de 50 a 100 anos - alerta Nobre.
Segundo ele, no pior cenário a savana toma 60% da floresta e no cenário médio toma de 20% a 30% da floresta.
- No melhor cenário ela não toma nada, e é este que nos queremos.
Para estudar a interação entre a Floresta Amazônica e as condições atmosféricas e climáticas, os integrantes do LBA empregam equipamentos diversos, como torres de coleta de dados espalhadas pela floresta e instrumentos de sensoriamento remoto via satélite.
As pesquisas desenvolvidas pelo LBA já demonstraram o papel dos aerossóis na absorção da radiação solar, o ciclo de nutrientes das plantas e a importância do vapor dágua emitido pela Amazônia na formação de nuvens e chuvas, entre outros.
A 3º Conferência Científica do LBA foi aberta pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Além de Carlos Nobre, a primeira reunião plenária desta terça-feira teve palestras dos cientistas Maria Assunção - sobre —Desmatamento e queimadas como forças da mudança climática na Amazônia— e Meinrat Andrrea, sobre —Fumaça, aerossóis, nuvens, chuva e clima na Amazônia— (O Globo on line, 27/07)