Congresso revoga dispositivo sobre áreas de preservação em zonas urbanas
2004-07-27
O Congresso Nacional aprovou em tempo recorde, com apenas um dia de votação,
projeto de lei que trata de incorporação e credito imobiliário e com isso
revogou dispositivo do Código Florestal que dispõe sobre áreas de
preservação permanente em zonas urbanas e de expansão urbana.
Caso essa medida que está na mesa do Presidente Lula seja sancionada, a
maior parte do pouco que resta da Mata Atlântica, da Zona Costeira, dos
mananciais e dos recursos hídricos estarão gravemente comprometidos, pondo
em riso a qualidade de vida de mais de 2/3 da população brasileira. Com um
simples decreto municipal, prefeitos poderão declarar áreas de matas
ciliares, mata atlântica, restinga, mangues, entre outras, como de expansão
urbana e com isso excluí-las das áreas de preservação permanente, condenando
ao fim o pouco que resta.
— As inúmeras criticas e retaliações que tentam transformar o processo de
licenciamento ambiental vigente no Brasil no bode expiatório da vez, fazem
com que iniciativas isoladas como essa, de parlamentares movidos por
interesses setoriais, principalmente do mercado imobiliário e que acontecem
em anos eleitorais, resultem em aprovações de Leis altamente prejudiciais à
sociedade e ao meio ambiente e reforcem a imagem externa de um país na
contramão da história, afirma Mario Mantovani, diretor de relações
institucionais da Fundação SOS Mata Atlântica.
Histórico: Para estimular a construção civil no país, o Congresso Nacional
aprovou, no início de julho, um projeto de lei com novas regras para o
mercado imobiliário, que ainda deve ser sancionado pelo presidente Lula. Na
surdina, o relator do projeto, o deputado Ricardo Izar (PTB/SP) -
Coordenador da Frente Parlamentar de Habitação e Desenvolvimento Urbano -
inseriu nele um artigo que invalida a aplicação do Código Florestal em áreas
urbanas e de expansão urbana.
A proposta afeta especialmente a Mata Atlântica e a Zona Costeira, onde a
especulação imobiliária já é uma das principais ameaças e poderá comprometer
as áreas importantes para a conservação do solo e de recursos hídricos,
agravando situações já recorrentes nas principais metrópoles brasileiras,
como a poluição dos recursos hídricos, a incidência de enchentes e o
abastecimento de água em locais já comprometidos como a Região Metropolitana
de São Paulo (RMSP).
Atualmente, somente 10% dos municípios possuem órgão ambiental com alguma
estrutura para proceder ao controle e à fiscalização ambiental. A Pesquisa
de Informações Básicas Municipais realizada em 2001 pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que apenas 22,2 % dos
5.560 municípios brasileiros contam com Conselhos Municipais de Meio
Ambiente. Ou seja, o controle público e social da gestão ambiental dos
municípios ainda é bastante frágil no país.
Campanha: Para evitar um dos maiores retrocessos à gestão ambiental urbana
do país, o Instituto Socioambiental e seus parceiros estão promovendo a
Campanha virtual Diga Não à Expansão Urbana Desordenada!, que envia
mensagens eletrônicas ao presidente Lula pedindo o veto ao artigo que
invalida a aplicação do Código Florestal em áreas urbanas. Para participar,
acesse: http://www.socioambiental.org/inst/camp/cod_flor/index.html