Memória dos acidentes da Petrobras: uma história de negligência
2004-07-27
A indústria do petróleo completou 50 anos em 2003 e tem muito a comemorar do ponto de vista da evolução tecnológica. Mas pouco na área da segurança do trabalho. Os petroleiros vivem apontando a negligência e o excesso de terceirização, que se acentuou nos últimos anos, como as principais causas de acidentes com mortes. Segundo eles, em menos de meio século de atividades, contados entre 1967 e 2001, houve pelo menos dez grandes acidentes que deixaram na história da Petrobras uma mancha que ninguém gostaria de lembrar. Número reduzido de pessoal, falhas na automação e nos equipamentos são as principais causas desses acidentes. Confira a seqüência:
– 1967, terminal petroleiro de Temadre, Ilha de Madre de Deus, Bahia de Todos os Santos: incêndio de grande porte, com dezenas de mortos;
– 1972, refinaria Duque de Caxias (Reduc), rodovia Rio de Janeiro, Petrópolis: vazamento e incêndio em válvula de esfera de GLP, com explosão e lançamento de fragmentos, 38 óbitos, incluindo brigadistas;
– 1982, transporte de derivados, bairro da cidade de Pojuca, Recôncavo Baiano: descarrilamento de 20 vagões-cisterna (15 diesel e cinco gasolina), frete Petrobras e distribuidoras, composição RFF-Leste: derramamento de combustíveis ao longo da ferrovia, próximo de ruas com residências, pessoas levando latas cheias para casa, incêndio prolongado e disseminado, mais de 50 óbitos e dezenas de lesões graves;
– 1982, Revap, São José dos Campos (SP), rodovia Presidente Dutra: vazamento de gás ácido, com ácido sulfídrico, em tubulação na área de tancagem , contaminação de tomada de ar para casas de controle, 10 mortos instantaneamente, inclusive três do socorro médico, e um, dias após;
– 1984, Dutovia Tedep, Alemoa, Santos (SP) e bairro Vila Socó, de Cubatão (SP): rompimento de duto de gasolina, com derramamento prolongado sobre o manguezal, seguido de explosões e incêndios atingindo as palafitas e barracos da favela . Mais de 90 óbitos oficiais e mais de 500 desaparecidos estimados;
– 1984, plataforma central de Enchova PCE-1, Bacia de Campos (RJ), mar do Norte Fluminense: erupção de blow-out, golpe de bolsa de gás num dos poços conectados à plataforma, operada pela empresa Pozos, com explosão, incêndio prolongado e evacuação do convés. Acidente com uma das embarcações de abandono (baleeira Maclaren) , rompimento do cabo do truco com queda e mergulho da embarcação, 42 mortos;
– 1988, plataforma central de Enchova PCE-1, Bacia de Campos (RJ), mar do Norte Fluminense: novo blow-out, com explosão e fogo, desta vez sem mortos, com a fuga dos 250 trabalhadores; incêndio durante um mês;
– 1991, refinaria Manguinhos: vazamento de óleo cru reduzido a 300ºC da torre de destilação atmosférica, seguido de flasheamento, incêndio, com explosão de cilindros de amônia, ferimentos em trabalhadores (um grave, com 90% do corpo queimado), um óbito e feridos na favela próxima durante o pânico;
– 1998, refinaria Gabriel Passos (Regap), Betim (MG): erros no projeto dos dutos não permitiram impedir que um vazamento de nafta atingisse um setor no qual um trabalhador realizava um serviço de solda; o fogo se espalhou rapidamente, causando a morte de seis pessoas e ferimentos graves em outras seis;
– 2001, 15 de março: duas explosões na plataforma P-36 culminaram com a morte de 11 petroleiros e o afundamento, cinco dias depois, da maior plataforma submersível do mundo; depois, outros 13 petroleiros morreram em acidentes de trabalho; desde 1998, foram 106 mortes registradas pelos sindicatos e pela Federação Única dos Petroleiros, 79 delas vitimando trabalhadores terceirizados.