China testará mísseis capazes de alcançar litoral dos EUA
2004-07-23
A China testará o lançamento de três mísseis balísticos, dois deles intercontinentais e capazes de atingir a costa oeste dos Estados Unidos, anúncio que coincide com as atuais discussões entre os dois países sobre desarmamento. Segundo a agência oficial chinesa Xinhua, que cita quinta-feira (22/07) fontes militares russas, o alcance dos três mísseis - Dongfeng-31, Dongfeng-21 e Julang-2 -, todos com capacidade para transportar diversas ogivas nucleares, varia entre 1.800 e 8 mil quilômetros. Os mísseis percorrerão os 2.500 quilômetros que separam a base de lançamento na província setentrional de Shanxi e a área de testes de Lop Nur, localizada no deserto de Taklimakan (província de Xinjiang). O Ministério russo da Defesa foi informado pelas autoridades militares chinesas dos detalhes do lançamento, que acontecerá em uma região de maioria muçulmana na fronteira com as repúblicas ex-soviéticas de Tajiquistão, Quirguistão e Cazaquistão. O Dongfeng-21, que utilizará um lançador móvel, tem um alcance superior a 1.800 quilômetros; o Dongfeng-31 é um míssil intercontinental cujo alcance chega a 8 mil quilômetros; enquanto o Julang-2 é também um míssil intercontinental, mas submarino. Segundo o jornal Hong Kong Commercial Daily, o Julang-2 poderia ser lançado do mar durante as atuais manobras militares no estreito de Taiwan, que simulam uma invasão da ilha. Os exercícios, que acontecem estes dias na ilha de Dongshan, localizada a 150 milhas náuticas de Taiwan, simularão o controle do estreito por terra, ar e mar, e contarão com a participação de 18 mil efetivos e uma brigada anfíbia de tanques. O anúncio do teste de mísseis coincide com a visita à China de Thomas Fargo, comandante interino da frota dos EUA no Pacífico, que deverá se reunir nos próximos dias com os principais dirigentes militares chineses. A China tinha anunciado a implementação de uma série de normas para regulamentar as exportações de mísseis, durante a abertura da quinta reunião sobre controle de armamento entre China e EUA. O governo chinês solicitou recentemente a adesão ao Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis, um grupo de caráter voluntário formado por 33 países cujo objetivo é reduzir a proliferação de mísseis balísticos. Os Estados Unidos denunciaram em meados de junho a corrida armamentista de Pequim, com a compra de mísseis - 500 apontados para Taiwan - e a construção de silos (fossos onde se mantêm mísseis prontos para serem lançados). A China já realizou um bem-sucedido ensaio com o Julang-2 contra alvos localizados a milhares de quilômetros durante as manobras militares realizadas no estreito de Taiwan em 2001. No entanto, o teste feito no início de 2002 com o Dongfeng-31 fracassou, explodindo no ar quando não tinha alcançado ainda a metade de seu percurso. Os dois mísseis contam com veículos de reentrada MIRV, tecnologia que permite que um só míssil lance várias ogivas nucleares de modo simultâneo e com diferentes alvos, e que impulsionou substancialmente a capacidade balística intercontinental da China. Segundo fontes de inteligência americanas, a China dispõe de 20 silos operacionais com mísseis CSS-4 (DF-5A), que têm um alcance superior a 15 mil quilômetros, e planeja aumentar seu arsenal de ICBM (Mísseis Balísticos Intercontinentais) de 75 para quase 100 no ano de 2015.
De acordo com a imprensa de Taiwan, o Julang-2 pode alcançar a costa oeste dos Estados Unidos, que pretendem incluir Taiwan em seu escudo antimísseis, barreira que seria ineficaz diante de um hipotético ataque com mísseis balísticos equipado com várias ogivas nucleares. Além de reafirmar seu compromisso com o fornecimento de armas a Taiwan, Washington anunciou recentemente que porta-aviões americanos chegarão à região em agosto devido aos exercícios militares da costa do Pacífico. Pequim sustenta que a mobilização militar e o uso da força continua sendo uma opção irrenunciável, já que existem grupos minoritários em Taiwan que continuam buscando a independência da ilha rebelde. A ascensão da figura de Chen Shui-bian, líder do separatista Partido Democrata Progressista (PDP), frustrou os planos da China, que esperava tornar realidade a reunificação no ano de 2010. (EFE 22/07)