Siderúrgicas temem a falta de carvão vegetal
2004-07-22
Desde o final de 2003, quando a Associação Mineira de Silvicultura confirmou sua previsão de que, dentro dois anos, faltará carvão para atender à demanda das siderúrgicas mineiras, que o plantio de florestas tornou-se uma das prioridade para a economia mineira.
O interesse por esse tipo de agronegócio se acentuou, quando a Cenibra-Celulose Nipo-Brasileira anunciou nos primeiros dias de janeiro que pretende comprar madeira, nem que seja no Uruguai para dobrar sua atual produção de 860 mil toneladas anuais de celulose. Na última década, desestimuladas pela ausência de programas de financiamento para formação de florestas, as siderúrgicas mineiras plantaram menos do que necessitavam para alimentar seus altos-fornos e em decorrência dessa negligência, elas dispõem, hoje, de apenas 100 milhões de metros cúbicos de madeira nos campos. O consumo anual é estimado de 50 milhões e isso significa que faltará matéria-prima a partir de 2007. A situação está sendo contornada por iniciativas das autoridades ambientais, ao permitir que as siderúrgicas possam buscar nas matas nativas o carvão para atender até 10% de seu consumo.
Outros 10% podem ser buscados em florestas naturais em outros estados e já há caminhões apanhando carvão em Mato Grosso e Tocantins, a mais de 1.500 quilômetros de distância das usinas, onde há grande desmatamento para atender à expansão da fronteira agrícola. Mas trata-se de soluções transitórias, segundo o presidente da AMS, Antonio Claret de Oliveira: — O Brasil consome 400 mil hectares de florestas por ano, em relação à uma plantação de apenas 200 mil hectares no período. Isso pode causar o que chamamos de apagão florestal, afirma. A produção de madeira é uma atividade de extraordinária importância em Minas, devido à demanda da indústria siderúrgica. Ao contrário do que muitos imaginam o carvão não é utilizado nas usinas para a produção de energia mas, sim, como fornecedor de um elemento químico essencial, o carbono que, ao se associar com o minério de ferro, num alto forno, resulta no ferro-gusa.
O estado de Minas Gerais produziu, no ano passado, 6,5 milhões toneladas de ferro, a partir de carvão vegetal. Quase toda a produção é de responsabilidade de 56 pequenas siderúrgicas independentes, que esbarram nessa fase, sem alcançar a produção do aço. As grandes siderúrgicas - Usiminas, Açominas, Belgo Mineira e Acesita são chamadas de usinas integradas porque vão do ferro ao aço, mas substituem o carvão vegetal, total ou parcialmente, pelo carvão mineral, também chamado de coque, que é um produto importado. A opção por um produto estrangeiro e fóssil, segundo o diretor executivo da AMS, o engenheiro florestal José Batuíra de Assis, teria ocorrido numa época em que as florestas rendiam apenas 12 metros cúbicos de madeira por hectare, durante o ano. Hoje a produtividade de cada florestas é de 35 metros cúbicos por ano e, além disso, em seu custo não há variações cambiais, já que a floresta é nacional. Por isso, ele acredita que num prazo relativamente curto as grandes siderúrgicas vão se curvar ao carvão vegetal, aumentando ainda mais a demanda pela madeira. Caso isso ocorra, a necessidade de florestas alcançará dimensões faraônicas, pois a produção de ferro a partir do coque é de 8,5 milhões de toneladas anuais, em Minas Gerais. O plantio de florestas sempre foi uma atividade empresarial em Minas Gerais, já que a legislação exigia, no passado, que os grandes consumidores de madeira fossem auto-suficientes Essas empresas, sobretudo as siderúrgicas e que se reúnem na AMS, plantaram quase dois milhões hectares de eucalipto nos últimos 20 anos, uma área do tamanho do estado de Sergipe. (Celulose Online, 22/07)