Pesquisadora diz que brasileiros pobres são usados para testar medicamentos
2004-07-21
Membro da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, a geneticista Eliana Azevedo defendeu uma maior vigilância dos comitês de ética. Atualmente, existem cerca de 400 comitês em todo o país. —Mas isso não é suficiente—, disse. Segundo ela, a população de baixa renda é cada vez mais utilizada em pesquisas científicas e na testagem de medicamentos. O problema estaria nos abusos que são cometidos contra esses pacientes. —As pessoas pobres não sabem avaliar bem uma proposta e denunciar—, explicou. —Nos últimos anos, o Brasil se tornou celeiro de pesquisas com humanos. Eles (classe baixa) estão sendo usados em pesquisas mas não vão usufruir daquele resultado. Ou porque não possuem a doença ou porque não poderão pagar aquele remédio—, denunciou. Outra questão discutida é que, em muitos casos, a pessoa deixa de receber o tratamento depois que a pesquisa acaba.
Na palestra que proferiu pela manhã, Eliana fez um histórico da normatização da produção científica. Segundo ela, as primeiras normas foram criadas pela necessidade de se punir os cientistas nazistas presos após a Segunda Guerra Mundial. Atualmente, todas as pesquisas têm que ser autorizadas por um comitê e seguir um protocolo estipulado. O problema é que não há mecanismos que controlem a diferença entre o resultado obtido e o que foi proposto no pedido de autorização da pesquisa. Isso deixa margem para que o cientista desvie propositalmente o foco de atuação do estudo. A geneticista também falou sobre o conflito de interesses, situação observada com frequência no país. —Hoje, o pesquisador trabalha de manhã na universidade e à tarde é sócio do laboratório que tem interesse no resultado daquela pesquisa—, explicou. A preocupação, segundo ela, é que a ciência não seja atropelada pelas fontes de financiamento. —É preciso correções para que a ciência nos ofereça o que há de melhor e não o que a indústria farmacêutica quer—, acrescentou. (Diário de Cuiabá, 20/07)