Cerrado perde anfíbios que guardam a história da região
2004-07-20
Junto com a destruição de cerca de 2,6 milhões de hectares de Cerrado a cada ano – principalmente para o avanço das lavouras de soja – o Brasil perde muito mais do que as belas paisagens que caracterizam o bioma. Diariamente, sem que ninguém veja, milhares de animais também são dizimados pela esteira de um progresso que só beneficia uns poucos produtores rurais. Dono de uma das maiores biodiversidades em anfíbios do Planeta, o Cerrado brasileiro está perdendo diversas espécies de rãs, sapos e pererecas que nem tiveram tempo de ser devidamente estudadas, apesar de estarem na região há milhões de anos e serem testemunhas da história da região.
Quando o tempo, os recursos financeiros e a disposição dos pesquisadores permite, o Cerrado revela verdadeiros tesouros de vida silvestre em meio à sua anfibiofauna. Atualmente, existem em seus 2 milhões de quilômetros quadrados cerca de 142 espécies (52 endêmicas) de anfíbios devidamente identificadas, mas não o suficiente para que cessem as investigações científicas sobre elas. Apesar de estarem no Cerrado há mais tempo do que o homem, sabe-se muito pouco sobre os anfíbios, porém o suficiente para que se estabelecem medidas urgentes para conservação desses animais e de tantos outros animais por meio da criação de áreas de proteção integral.
Nas 11 localidades estudadas pelo especialista entre os estados de Goiás, Tocantins, Bahia e Distrito Federal, ele encontrou em cada uma cerca de 30 espécies de anfíbios diferentes. Em locais como a Chapada dos Veadeiros, por exemplo, existem cerca 42 espécies conhecidas. Próximo à Usina Hidrelétrica de Manso, MT, há 44 espécies distintas. Tamanha diversidade – uma das mais expressivas na América do Sul – explica-se pelas características de localização, hidrografia, altitude, vegetação e clima dos cerrados. Trata-se de um bioma que faz intercessão com a Mata Atlântica, a Caatinga, o Pantanal, os Campos Sulinos e a Amazônia. O Cerrado mantém intenso fluxo de organismos com os seus vizinhos por meio de um intricando sistema fluvial. No Cerrado, nascem rios que formam as bacias do Paraná, do Amazonas e do São Francisco. (Ibama, 19/07)