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2004-07-20
Cinqüenta e oito por cento do Cerrado mato-grossense está destruído. O número é quase igual ao índice nacional: em todo o país, 57% dos 204 milhões de hectares de Cerrado também foram degradados. Os dados são da ong Conservação Internacional (CI), que fez um mapeamento da situação do bioma com imagens do satélite americano Terra, da Nasa. O estudo foi feito no ano passado e divulgado no início do mês.

A devastação atinge 20,5 milhões de hectares do bioma no Estado. O cerrado cobre 39% da área de Mato Grosso e 23% do território brasileiro (em 12 Estados), perdendo em tamanho apenas para a Floresta Amazônica, com 46% do país. A expansão da agricultura e da pecuária seria a principal responsável pelas estatísticas. A conclusão do relatório é preocupante. Se o ritmo de degradação continuar na mesma velocidade, o Cerrado brasileiro terá desaparecido até 2030. Com os estudos, os pesquisadores calcularam que a taxa de destruição seja de 1,5% por ano (ou três milhões de hectares).

Há dados ainda mais impactantes: a porcentagem de devastação equivale a 2,6 campos de futebol por minuto. A taxa é dez vezes maior que a da Mata Atlântica, que é de um campo a cada quatro minutos. —Não queremos que o Cerrado se torne a Mata Atlântica de amanhã—, afirma Ricardo Machado, diretor da CI Brasil para o Cerrado, que também participou do estudo. A Mata Atlântica é o ecossistema brasileiro com maior índice de degradação. Atualmente, restam apenas 9% da cobertura nativa.

Caso isso aconteça, diversos animais não serão mais encontrados na natureza. Das 634 espécies que figuram na lista do Ibama de animais ameaçados de extinção, 112 ocorrem no Cerrado. O bioma é responsável por um terço da biodiversidade brasileira. Ao longo dos anos, vários estudos têm acompanhado a conservação do Cerrado. Em 1985, um estudo da Universidade de Brasília (UnB) estimou em 37% as áreas degradadas. Em 1998, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) calcularam esse índice em 49%. A mesma ong atualizou os dados em 54% em 2002. A média anual de desmatamento de 1,5% foi calculada fazendo a média entre as pesquisas.

Para o estudo, os pesquisadores coletaram imagens de satélite do site da Nasa em 2002. Com os mapas, foi feita a composição da área central onde haveria Cerrado e passou-se à classificação do que ainda existe. A intenção era localizar blocos de Cerrado remanescentes, intocados. Mas os pesquisadores acabaram chegando ao outro lado da moeda – o que já foi destruído. E ainda restam dúvidas sobre o nível de conservação dos 43% restantes, já que o satélite que captou as imagens tem resolução baixa e tende a superestimar áreas nativas. Há estimativas de que 12% do Cerrado brasileiro esteja conservado, sendo que 7% desse total está localizado em terras indígenas e 5% em unidades de conservação.

Lavoura de soja estimula a ocupação contínua da terra

Em Mato Grosso, a soja é apontada como um dos responsáveis pelas estatísticas. —A soja está fazendo o papel que o eucalipto fez nos anos 70. E é ainda mais grave porque encontra um mercado em franca expansão—, explica Machado. Segundo ele, as pressões contra o ecossistema têm se acirrado nos últimos seis anos em áreas onde a pecuária não era desenvolvida, como o norte mato-grossense e oeste da Bahia.

O mercado de grãos, cada vez mais em alta, acaba estimulando a ocupação contínua de áreas. Outro fator apontado pelo diretor da ong é o valor das áreas de Cerrado. —Uma pessoa vende sua terra lá no sul do país e compra um área cinco ou seis vezes maior no Cerrado—, exemplifica. Um atrativo, além do preço, é a facilidade e rapidez no plantio. A vegetação do Cerrado é fácil de ser derrubada.

No Estado, as áreas mais críticas são as nascentes do rio Araguaia, Xingu e de outros rios que abastecem o Pantanal. Segundo Machado, o desmate de nascentes provoca o assoreamento do leito e pode resultar na diminuição na quantidade de água. —Essa vegetação é como uma esponja, que absorve a água da chuva e libera aos poucos ao longo do ano—, explica.

Os blocos ainda conservados são as terras indígenas e unidades de conservação. A terra indígena do Xingu, com 2,8 milhões de hectares, concentra a maior parte do cerrado mato-grossense. —Mas já está sendo comida pelas beiradas—, acrescenta. Alguns lugares de difícil acesso, onde não havia estradas, por exemplo, também foram mantidos. Restam ainda as unidades de conservação como o Parque Estadual Ricardo Franco, na Serra de Santa Bárbara, Estação Ecológica Serra das Araras, Estação Ecológica Iquê e Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. Porém, Machado alerta para as pressões que têm sido feitas para acabar com o Parque Ricardo Franco. Segundo ele, as alegações seriam de que o Estado não indenizou os antigos proprietários.

O momento para investir na proteção ambiental é agora

Com o estudo, a ong está traçando um plano de conservação para o Cerrado brasileiro. Uma das propostas é a criação de seis —corredores ecológicos—: Emas-Taquari, Araguaia, Paranã, Jalapão, Uruçuí-Mirador e Espinhaço. Os corredores vão funcionar no entorno de parques e unidades de conservação. A idéia parte da concepção de que as espécies ameaçadas de extinção acabam transitando nas áreas vizinhas.

Prefeituras de catorze municípios na região de Emas-Taquari firmaram parcerias com a Conservação Internacional. Alto Araguaia e Alto Taquari, no sul de Mato Grosso, participam do projeto. Cada cidade recebeu um kit com computador, impressora, GPS e acesso à base de dados da ong. Com esses instrumentos, membros da comunidade e dirigentes vão definir estratégias para o desenvolvimento sustentável do local. Municípios mato-grossenses também vão participar do corredor do Araguaia.

Os dados foram apresentados ao Ministério do Meio Ambiente, que decidiu começar um mapeamento das áreas remanescentes de Cerrado. Um grupo de trabalho vai elaborar medidas de conservação. Mas a principal proposta da ong ainda não foi analisada. A CI quer que seja criado um fundo para a proteção do bioma. —Na semana passada, o presidente anunciou R$ 35 bilhões para a próxima safra. Se a agricultura é o principal fator que está causando essa devastação, nada mais justo que parte desse dinheiro seja destinado para a conservação do Cerrado—, justificou.

O dinheiro seria utilizado para recuperar espaços abandonados por causa da degradação. Esses locais poderiam ser retomados para agricultura e pecuária, impedindo a abertura de novas áreas. O restante seria empregado na proteção dos recursos hídricos e na manutenção das unidades de conservação. —O Cerrado é como um homem de 40 anos, que está no auge da vida e começa a fazer plano de saúde, seguro de vida... O momento para investir na proteção ambiental é agora—, defendeu. (Diário de Cuiabá, 19/07)

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