Pesquisa vai quantificar ciclos de carbono e água em florestas
2004-07-19
A Universidade de São Paulo (USP) está desenvolvendo em parceria com a Votorantim Celulose e Papel um projeto para quantificar os ciclos de carbono e água em florestas naturais e florestas plantadas de reflorestamento (eucalipto). O projeto é coordenado pelo professor Humberto Ribeiro da Rocha, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, e envolve especialistas de diversas áreas, como biólogos, hidrólogos, engenheiros florestais e meteorologistas. Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento participam desse projeto.
O trabalho pretende compreender de forma quantitativa o ciclo funcional das florestas, o impacto das mudanças de uso da terra, e a elaboração de modelos físico-matemáticos verificando como se procedem as trocas de carbono e água do sistema solo-vegetação com a atmosfera e a hidrosfera (rios e água subterrânea). Os estudos envolvendo simultaneamente os ciclos de carbono e água são inéditos na América Latina e têm previsão de duração de cinco anos. A floresta natural estudada é a Gleba Pé de Gigante, uma área estadual de Cerrado, no interior de São Paulo, administrada pelo Instituto Florestal da Secretaria do Meio Ambiente.
Osvaldo Cabral, pesquisador da Embrapa, explica que serão medidos os fluxos de CO2 e a evapotranspiração, que é a evaporação do solo e a transpiração das plantas. Serão analisadas três tipos de ocupações: uma área com cultivo de eucalipto; uma área de cerrado nativa e uma área com cana-de-açúcar. Essa análise tem dupla finalidade. A primeira é poder simular esses dados em modelos matemáticos de crescimento e a segunda é a questão da sustentabilidade dos sistemas (comparação), explica o pesquisador. A previsibilidade é importante, pois permite que se enxergue quais as melhores formas de se manter a sustentabilidade de produção e oferta de recursos hídricos.
Análise vai possibilitar prever impactos e calcular riscos
Em cenários adversos, como eventos climáticos extremos, mudanças de uso da terra com manejo inadequado, os impactos podem ser previstos e os riscos calculados. Com isso, os estudos poderão apontar quais métodos podem ser empregados para que conceitos como integridade e sustentabilidade do ecossistema sejam atingidos. Será uma investigação para indicar alternativas de mitigação do aquecimento global e da redução da escassez de água. Vinculado à questão do carbono, a utilização e oferta de água é o outro tema principal do estudo, contemplando as externalidades ambientais da remoção de carbono de forma conjunta. A participação da Votorantim no projeto, em Luiz Antonio, SP, será a área de estudos concentrados sobre o agroecossistema eucalipto. Trata-se de uma região manejada com eucalipto há várias décadas, que tem um sistema de manejo com alta produtividade agrícola. Estão envolvidas nas pesquisas o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Usp e a Esalq, Piracicaba, a Embrapa Meio Ambiente, o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo, a Instituto de Botânica, da Secretaria do Meio Ambiente e o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos. A Gleba Pé de Gigante foi escolhida pelas referências ou linhas de base que são parâmetros fundamentais em estudos de sustentabilidade e impacto ambiental. O Sudeste do Brasil foi em grande parte coberto por vegetação de Cerrado restrito e Floresta Mata Atlântica do interior, as quais hoje apenas restam pequenos fragmentos. A Gleba Pé de Gigante é a maior reserva de Cerrado Restrito, na forma de área contígua, no Sudeste do Brasil. Ela situa-se próxima ao grande polo canavieiro no norte do estado, e de áreas de eucalipto nas cercanias. Como ela foi extensivamente estudada por biólogos e ecólogos da Universidade de São Paulo, tem-se um grande conhecimento da funcionalidade ecofisiológica do Cerrado, o que será um excelente elemento de comparação, explica Humberto.