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2004-07-19
A necessidade de carvão vegetal por parte das siderúrgicas é gigantesca. Segundo o pesquisador do Núcleo de Altos Estudos da Amazônia, Maurílio de Abreu Monteiro, para a produção de uma tonelada de ferro gusa é preciso queimar 2,6 toneladas de madeira. Como a producao de gusa na regiao Norte em 2003 foi de 2,2 milhoes de toneladas, isso representa a queima de 5,7 milhoes de toneladas de madeira
— É um processo intensivo e de baixa eficiência energética, que necessita de grande quantidade de carvão. Apenas uma pequena parte da madeira utilizada provém de áreas de reflorestamento, o restante é mata primária, explica Monteiro. Na produção de ferro gusa, o carvão cumpre duas funções: como combustível para gerar o calor necessário à operação do alto-forno da siderúrgica e como agente químico para retirar o oxigênio durante o processo. O ferro gusa da Amazônia é considerado o melhor do mundo porque usa o carvão vegetal e não o mineral. O carvão mineral contamina o gusa com altos teores de enxofre e impede que seja aproveitado na produção de aços especiais, usados principalmente pela indústria automotiva.
Nos anos 80, quando as primeiras siderúrgicas foram implantadas, o discurso das empresas era de que o carvão seria obtido em grandes áreas reflorestadas. Isso nao ocorreu, porque obter carvão de mata nativa é bem mais barato. O carvão vegetal tem grande influência nos custos de produção do gusa. Representa mais de 1/3 do preco final do produto. Em junho, a tonelada de gusa era vendida por 142 dólares, dos quais 55 correspondiam ao custo do carvão. — É o insumo através do qual as siderúrgicas controlam a margem de lucro, afirma Maurílio. Mudar a situação nas carvoarias, portanto, requer nao apenas boa vontade, como uma nova configuracao econômica na indústria do aço, que também leve em conta os custos sociais e trabalhistas da producao do carvao vegetal.
O pesquisador cita as consequências da utilizacao da mata primária em larga escala: exploracao predatória dos recursos naturais; desorganização dos espacos urbanos; ampliacao das tensões no campo e dos conflitos fundiários; trabalho de baixa remuneracao e em condições insalubres. (Observatório Social em Revista / junho 2004)

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