CONFERÊNCIA DE BONN APONTA VALOR ECONÔMICO DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
2001-08-20
Duas das decisões referendadas por 186 países, na recente Conferência sobre Mudança do Clima, realizada em Bonn, na Alemanha, afetam projetos na região da Amazônia e a relação socioeconômica que a população local mantém com o meio que o cerca. Uma delas prevê a criação de um fundo para avaliar mudanças climáticas, que prevê o apoio a projetos na área energética, reflorestamento e desenvolvimento sustentável e receberá dos governos da Comunidade Européia, Nova Zelândia, Canadá e Japão US$ 420 milhões a partir de 2005. Somando-se esse dinheiro a outras fontes de recursos já existentes, o volume total supera US$ 1 bilhão. Um dos objetivos da criação desses fundos é permitir que os países em desenvolvimento busquem o aprimoramento tecnológico, alcançando o nível dos países industrializados, mas preservando o meio ambiente. Outro ponto decidido em Bonn foi a inclusão das florestas tropicais, sumidouros naturais de gás carbônico, nas negociações de redução da emissão de gases que causam o efeito estufa. Ficou estabelecido que, entre 2008 e 2012, os países industrializados precisarão atingir as metas impostas de redução de 5% por ano na emissão de gás carbônico, em relação ao nível de 1990. Nesse contexto, segundo Divaldo Rezende, presidente do Instituto Ecológica, que realiza pesquisas sobre o seqüestro de carbono na Ilha do Bananal e participou da Conferência, o fato de as principais florestas tropicais estarem no Brasil é moeda de troca para a aplicação desses recursos. Projetos como o da Ilha do Bananal, no Tocantins, já foram capazes de identificar a capacidade da região, que reúne os ecossistemas da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal, de absorver 1 milhão de toneladas desse gás por ano. Em compensação, o Japão produz 13 milhões em igual período e é responsável por 8% das emissões mundiais. Por sua vez, o Protocolo de Kyoto teve como uma de suas inovações permitir trabalhar cada região em contexto global e isso possibilita que as emissões de carbono dos países industrializados sejam comercializados e abatidas, pela compra do excedente dos países em desenvolvimento. Rezende defende que as áreas de sumidouro são grandes possibilidades para o Brasil, que possui muitas áreas ociosas ou para reflorestamento, e é dono da metodologia para esses processos, com três projetos de destaque no Paraná, Mato Grosso e Tocantins. - Outros países iniciaram processo de preservação antes, mas o Brasil soube recuperar-se e busca soluções não apenas no contexto florestal, contou. Ele alerta que, apesar da possibilidade do mercado ambiental movimentar, em todo o mundo, mais de US$ 20 bilhões por ano, a partir de 2005 o clima no Tocantins sofrerá os efeitos dos desmatamentos irregulares, queimadas e destruição das matas ciliares, além dos efeitos das mudanças globais. Sua imensa área de divisa é um obstáculo que precisa ser considerado, assim como lidar com o próprio crescimento, que inclui a produção agrícola. Rezende condena a visão imediatista dos produtores rurais. - Diminuir a área de preservação no Tocantins é matar a galinha dos ovos de ouro. A região é dona de uma riqueza fitoterápica desconhecida e enorme biodiversidade, além dos recursos hídricos que serão o produto mais caro no contexto mundial. Comprometer esses recursos pode significar comprometer o futuro do Estado, diz Rezende. O desmatamento é responsável por mais de 70% das emissões de gás carbônico no Brasil. O próximo passo para a ratificação da convenção será dado na reunião prevista para outubro, em Marrakesh, no Marrocos, quando o texto receberá sua forma definitiva. A entrada em vigor do Protocolo de Kyoto será em setembro de 2002. Os Estados Unidos, maiores emissores do mundo dos gases apontados como causadores do efeito estufa e responsáveis por 30% da emissão mundial de gás carbônico, comprometeram-se a apresentar uma proposta alternativa nessa oportunidade. Na análise de Rezende, a posição norte-americana defende o interesse de parte da economia, mas é contrária à posição da maioria do empresariado, responsável por iniciativas internas. (amazônia.org)