Manifestação camponesa contra Petrobras chega a La Paz
2004-07-14
Após percorrer cerca de 1.450 quilômetros em 44 dias, um grupo de camponeses bolivianos chegou terça-feira (13/07), a La Paz para exigir o aumento de impostos e do aluguel pago por um consórcio petroleiro dirigido pela Petrobras. Os quase 80 agricultores participantes da ação provêm do Chaco boliviano, a área mais rica em hidrocarbonetos da Bolívia, que fica no departamento de Tarija, na fronteira com a Argentina. Junto a eles, chegaram a La Paz quinhentos manifestantes da cidade de El Alto para apoiar suas demandas contra a empresa brasileira que opera no campo San Alberto em sociedade com a hispânico-argentina Repsol YPF e a franco-belga Totalfinaelf. Os camponeses pretendem se reunir com o presidente do país, Carlos Mesa, para exigir que o grupo petroleiro pague aluguel pelas terras que ocupam no Chaco e que os impostos que pagam subam de 18% para 50% de seu faturamento. Um porta-voz da Petrobras disse que o consórcio tem em dia o pagamento de aluguel aos camponeses que possuem títulos e que ofereceu ao grupo de manifestantes uma maior ajuda social, mas que eles pediam milhões de dólares e que por isso não se chegou a um acordo. Segundo relatório do escritório do delegado presidencial para a Revisão da Capitalização, o consórcio que opera em San Alberto não está violando o regime tributário, mas apelou à ética das companhias para que aceitem renegociar com o Estado um aumento dos impostos. O dirigente da Central Camponesa de Carapari, Hermas Pérez, disse que a conclusão da manifestação iniciada no dia 30 de maio reflete uma causa justa de todos os bolivianos para defender os hidrocarbonetos do campo San Alberto. Ele admitiu que o setor camponês da região pediu três milhões de dólares ao consórcio durante as negociações nas quais o vice-ministério de Hidrocarbonetos atuou como intermediário, mas que fracassaram pela decisão do setor de não aceitar os presentes que a empresa oferece com a citada ajuda. Essa jazida é considerada uma das mais ricas da América do Sul com reservas de 11 trilhões de pés cúbicos (0,11 trilhões de metros cúbicos) e dali exporta-se gás ao Brasil e à Argentina. — Queremos pedir que Mesa devolva o campo San Alberto aos bolivianos para que não continue nas mãos das transnacionais, afirmou o dirigente camponês ao sentenciar que se o presidente não os recebe é porque está do lado das empresas. A manifestação camponesa, de Carapari a La Paz, passando pelas cidades de Santa Cruz e Cochabamba, atravessou lugares situados desde os 644 metros acima do nível do mar até os 3.600 metros, o que provocou problemas de saúde a alguns dos participantes. Os manifestantes, entre os quais há doze mulheres e duas crianças, conseguiram alimentos graças à solidariedade dos povoados pelos quais passaram, disse Pérez. Sua chegada a La Paz se produz a poucos dias da realização do referendo sobre o destino do gás na Bolívia, programado para o dia 18 de julho e que diversos setores sindicais ameaçam boicotar porque Mesa rejeitou estudar a expropriação das petroleiras. (EFE 13/07)