RS é o segundo estado que mais utiliza asbesto
2004-07-14
Caso o governo federal consiga banir o uso do amianto como matéria-prima industrial, ainda restará um enorme passivo a ser solucionado. O mineral foi utilizado de maneira indiscriminada em 3.000 produtos industriais desde a década de 30 no Brasil. Estimativas da Associação Brasileira das Indústrias e Distribuidores de Produtos de Fibrocimento (Abifibro) indicam que 70% das casas do país possuem alguma parte de asbesto industrializado.
Levantamento parcial do Ministério Público mostra que 165 indústrias utilizam asbesto no país atualmente. No total elas empregam 15 mil trabalhadores, dos quais 3.500 mantêm contato direto com o minério. Metade das 165 empresas localizam-se no estado de São Paulo, que tem 1.500 trabalhadores manuseando o asbesto. O Rio Grande do Sul é o segundo estado que mais utiliza o insumo na indústria, tendo 568 trabalhadores expostos diretamente à matéria-prima. Em Minaçu, Goiás, onde se localiza a mina Cana Brava, explorada pela Sama Mineração de Amianto, que pertence à Eternit, existem cerca de 410 trabalhadores em contato direto com o amianto e 500 em outras atividades na empresa, segundo o MP.
— Mesmo que o amianto seja banido do Brasil, o pior está por vir, acredita Eduardo Algranti, pneumologista da Fundacentro, órgão do Ministério do Trabalho. Sua crença é baseada em dois fatores. O primeiro é que a Organizacao Mundial da Saúde nao identificou qualquer índice de tolerância para a exposição à fibra. Quer dizer, qualquer pessoa pode desenvolver uma das doenças ligadas ao amianto, mesmo que tenha contato apenas uma vez com o material. O segundo fator é o longo período de latência das enfermidades ligadas à fibra. Em alguns casos esse tempo pode ser superior a 40 anos. — O pico do adoecimento ocupacional em nosso país se dará entre 2005-2015, calcula Fernanda Giannasi, auditora fiscal do Ministério do Trabalho que há 21 anos estuda a questao.
Segundo estimativas da Fundacentro cerca de 300 mil pessoas estão expostas ao amianto no Brasil. — Fora da chamada indústria típica, não há controle sobre as conseqüências da exposição nem estudos no país que comprovem a contaminação, explica Algranti. Segundo ele, a exposição pode ocorrer durante a troca de uma pastilha de freio (composta de amianto), na instalação de uma caixa-d água ou em uma demolição, e em outras formas inimagináveis de contaminação.