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2004-07-13
Os habitantes do povoado de Apolo, no noroeste da Bolívia, estão dispostos a abrir com motosserras um caminho através da reserva do Parque Nacional Madidi, apesar da alegação do governo e grupos defensores da biodiversidade de que essa rota beneficiaria, sobretudo, a exploração ilegal de madeira. A reserva, considerada uma das mais importantes do mundo, está ameaçada de extinção desde que 140 pessoas começaram a cortar, em linha reta, tudo o que encontravam pelo caminho rumo ao vizinho povoado de Ixiamas, segundo informação oficial. Essa ação foi estimulada por uma aliança entre organizações cívicas, associações de agricultores com dirigentes muito politizados, transportadores da região e comerciantes de alimentos e bens de consumo. A abertura desse caminho é questionada pelo Serviço Nacional de Áreas Protegidas (Sernap), uma vez que atravessaria a parte central do parque e destruiria as cabeceiras e nascentes de rios localizados em zonas de elevados níveis de precipitação pluvial. As populações urbanas de Apolo e Ixiamas são de 2.123 e 5.625 habitantes, respectivamente. De acordo com representantes do Sernap, uma estrada na região provocaria grandes deslizamentos de terra e afetaria fontes de água que beneficiam os cultivos de moradores das planícies.

Espécies em extinção
Ao longo do percurso da via que se pretende abrir não há assentamentos humanos que possam se beneficiar com ele. Especialistas em conservação temem que grupos de exploradores ilegais o utilizem para acabar com árvores em extinção, como o mogno (Swietenia macrophylla). Arturo Bowles, gerente-geral da Câmara Nacional Florestal, que reúne empresas madeireiras, garantiu que seus afiliados respeitam as normas de conservação e que nenhum tem concessão na região do Parque Madidi. Essa reserva, com uma área de 18.957 quilômetros quadrados, foi criada pelo governo em 1995, atendendo a apelos de organizações defensoras da natureza, como a Conservação Internacional (CI). Sua localização fica entre as províncias Franz Tamayo e Iturralde, ao norte do departamento de La Paz. Além disso, ao seu redor, há outros parques nacionais, como o Manuripi Heat, a Área Natural de Manejo Integrado Apolobamba e a Reserva da Biosfera Pilón Lajas. A oeste, a reserva faz limite com o Peru. A região tem alturas variadas e sua topografia inclinada guarda neves permanentes, matas úmidas, mata tropical seca, mata tropical chuvosa e savanas ou pampas, de acordo com informações da CI contidas em um relatório. Cerca de mil espécies de aves - ou 11% do total mundial - encontram-se nesses lugares, do mesmo modo que mamíferos de grande porte como o jaguar (Panthera onça), o urso de óculos (Tremarctos ornatus), o tapir ou anta (Tapirus terrestris) e várias espécies de primatas. As espécies vegetais registradas pelo governo somam 4.739.

Desenvolvimento sustentável
O destino do parque parece ligado ao freqüente dilema conservação ou desenvolvimento, mas o diretor do Sernap, Oscar Loayza, garantiu que é um dever irrenunciável e inegociável manter o patrimônio natural da nação. Na sua opinião, a reserva é um instrumento para apoiar o desenvolvimento sustentável de populações que habitam a região desde tempos remotos e dos povos que historicamente estão relacionados ao uso de seus recursos naturais. Loayza destacou exemplos de sucesso da participação comunitária na produção de café de alta qualidade, competitivos no mercado externo. Outro projeto associado à conservação é o ecoturismo. O Albergue Chalalán, por exemplo, mantido pela comunidade de San José de Uchupiamonas, na parte central do parque, registra anualmente um movimento econômico próximo de US$ 1 milhão e paga impostos no valor de US$ 30 mil. O Instituto Nacional de Reforma Agrária pretende outorgar a titulação de terras a essa comunidade indígena, em uma área que compreende 189 mil hectares, na categoria de Área Natural e Manejo Integrado do Parque Nacional Madidi. Os habitantes de Apolo e Ixiamas garantem que seu projeto não afeta a riqueza florestal e pedem a integração viária entre as duas localidades. O Sernap afirma que essa demanda não se justifica porque as duas cidades têm produção idêntica. Loayza atribuiu a demanda a setores de fora da área protegida. — Eles têm diversos interesses incompatíveis com a existência do Madidi, ao contrário das populações que tradicionalmente o habitam e que permanecem caladas, diz.

Entre os grupos originários que até agora não expressaram sua posição sobre o conflito estão centenas de integrantes da comunidade de araona e os cinco mil da tacana. Os araonas vivem sob pressão de exploradores florestais e catadores ilegais de castanhas, em uma área de 92 mil hectares reconhecidas pelo governo, em 1992, como Terra Comunitária de Origem. Dirigentes dessa comunidade pedem a ampliação desse território para deter a ameaça permanente das empresas florestais e dos apanhadores de madeira chamados cuartoneros. Os tacanas somam a esses problemas sua dispersão territorial. Na semana passada, antes que os moradores de Apolo rompessem um diálogo com o governo, as autoridades departamentais de La Paz propuseram, com apoio do Sernap, o traçado alternativo de um caminho entre Apolo e Ixiamas, passando pelos povoados de Machua, Três de Mayo, Mamacona e San José de Uchupiamonas, com 190 quilômetros de extensão. O diálogo foi interrompido no último dia 5, quando o Sernap comunicou em um documento técnico que haveria riscos, caso a reserva fosse cortada por um caminho, mas, agora, se dizem dispostos a negociar.(Terramérica)

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