Argentina discute genética florestal
2004-07-13
A Rede de Transferência Tecnológica do NEA (Argentina) realizará, nos dias 15 e 16 de julho, uma série de conferências técnicas sobre melhoramento genético. O evento será realizado no Centro de Convenções de Pousadas, em Misiones, Argentina. O principal objetivo dos organizadores é transferir conhecimento e facilitar a disponibilidade do material existente aos pequenos e médios produtores da região (NEA). O grupo organizador é formado por várias instituições ligadas ao setor, entre elas, a empresa Bosques del Plata, Universidad Nacional de Misiones (Unam), Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria (Inta), Asociación Forestal Argentina (Afoa) e Asociación Forestal Mesopotámica. Segundo o decano da Faculdade de Ciências Florestais de Eldorado (FCF), Miguel López, o evento busca promover um avanço na aplicação de programas de melhoramento genético. — Trata-se de investigações que levam tempo e que requerem um significativo grau de investimento. Mas o desenvolvimento genético marcará o futuro da atividade se conseguimos incrementar a produtividade ganhando maior volume, qualidade e tempo, disse. López observa que o florestamento tem a característica de ser um processo produtivo de longo prazo, cerca de 20 anos ou mais, e que o melhoramento genético se apresenta como uma importante ferramenta de desenvolvimento. — Por exemplo, obter maior volume de crescimento em menor tempo, disse. A faculdade criou, há oito anos, o laboratório de Biotecnologia e Propagação Vegetativa, onde foram realizadas experiências com micro e macro propagações. — Os estudos resultaram em técnicas que permitem, por exemplo, a obtenção de plantas com determinada qualidade e características, a partir de sementes melhoradas, explicou.
Técnicas de propagação
O termo de propagação vegetativa se refere ao desenvolvimento de plantas por meio de técnicas de reprodução assexuada ou agámica. Ou seja, é a reprodução de uma planta por vias não convencionais (não sementes), como por exemplo: estacas, gomos, esquejes, púas, ou porções de tecidos cotiledones, folhas, yemas e embriões imaturos. Como resultado da aplicação desta técnica, obtêm-se indivíduos geneticamente idênticos (clones) e a sua multiplicação em massa. Em espécies lenhosas, as técnicas freqüentemente utilizadas são: cultivo de tecidos ou cultivo in vitro (multiplicação via axilar, organogênese e embriogênese), macro-propagação (enraizamento de estacas) e enxertos (púas de árvores seletas em pés receptores da mesma espécie). O laboratório da FCF avançou em experiências in vitro e ex vitro para Pinus taeda e híbrido. Atualmente, os primeiros resultados se encontram em escala operativa no campo de empresas florestais da região. Entre os países florestais do Cone Sul, no área de genética e propagação de Pinus radiata, não há dúvida de que o Chile exerce uma forte liderança. Entretanto, em comparação com Brasil e Uruguai, países com os quais se compartilha o interesse por Pinus taeda, pode-se dizer que a região do NEA possui hoje uma maior experiência no desenvolvimento de técnicas de propagação vegetativa desse tipo de vegetação.
Avanços tecnológicos
O engenheiro Fernando Niella, responsável pelo Laboratório de Biotecnologia e Propagação Vegetativa da FCF, salientou que a aplicação desta técnica será de grande avanço para o desenvolvimento do setor da região. — Por meio destas práticas, o produtor florestal consegue aumentar o número de hectares plantados com material genético superior. Isto implica em incrementar o rendimento por hectare e melhorar assim a rentabilidade de seu negócio, assegurou. Outro aspecto significativo na aplicação destas técnicas é a conservação e restauração de espécies lenhosas nativas da mata de Misiones. Neste sentido, Niella mencionou dois fatores que reforçam a aplicação da propagação vegetativa. O primeiro, segundo ele, é que a a selva paranaense está em risco de extinção. — O segundo motivo é que existe escassa disponibilidade de sementes, como é o caso do material genético do Pinheiro do Paraná (Araucaria angustifolia) ou do Pau Rosa (Aspidosperma polyneuron), com uma distribuição natural muito limitada e uma produção de sementes muito escassa, explicou. Quanto às possibilidades de que esta tecnologia chegue a mãos de pequenas e médias empresas florestais da região, o especialista indicou que existe uma condição necessária e prévia à utilização destas técnicas. — É preciso que um número crescente de produtores disponham de material genético de qualidade, incluindo os médios e pequenos, disse. Niella afirma que, com a utilização de material genético de alta qualidade, as técnicas de propagação irão adquirir maior relevância e a rentabilidade da operação estaria assegurada, mesmo que o custo de produção de propágulos vegetativos supere em até cinco vezes o custo de propagação por via convencional (sementes). (Argentina Forestal 12/07)