Peixes mortos são alerta na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio
2004-07-09
O aparecimento de peixes mortos na Lagoa Rodrigo de Freitas ontem, de uma espécie diferente das savelhas, chamou a atenção de biólogos e ambientalistas para um antigo problema enfrentado no local. Há pelo menos dez anos, o fantasma da mortandade de peixes assombra os cariocas e torna-se pivô de disputas políticas entre os governos municipal e estadual.
Procupado com o surgimento de paratis mortos, o presidente da comissão de Meio Ambiente da Alerj, Carlos Minc (PT), informou que vai oficiar hoje o Ministério Público e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente para saber o que foi feito, desde 2002, para preservar a Lagoa. Naquele ano, um estudo feito pela Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da UFRJ indicou que os canos de esgoto no entorno da lagoa e oito das 10 elevatórias estavam deteriorados.
— A culpa pela morte dos peixes ora é do tempo, ora é da água, ora é dos peixes, que são vulneráveis. O que foi feito desde a auditoria? — indaga.
O biólogo Mário Moscatelli teme que o aparecimento de paratis mortos seja o indício de problemas ainda maiores. Há cerca de três semanas, centenas de savelhas mortas apareceram na Lagoa. Na ocasião, a Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla), explicou que a savelha é uma espécie fraca, suscetível a pequenas mudanças. E garantiu que não havia riscos de a mortandade se estender a outros peixes.
—O parati é maior e mais resistente do que a savelha. Vamos esperar que todos os peixes morram para descobrir qual foi a causa? — quer saber Moscatelli, que encontrou paratis mortos na altura da Rua Maria Quitéria.
A Serla, entretanto, garante que não há mortantade. Segundo a superintendência, com a ressaca da semana passada, houve a entrada de um volume maior de peixes na Lagoa, o que movimentou a atividade pesqueira. Os peixes mortos na superfície seriam o resíduo daquilo que os pescadores não quiseram. Moscatelli também denunciou o fechamento, há dois meses, do Núcleo de Gerenciamento da prefeitura, que monitorava as condições de água na Lagoa. Entre os aspectos analisados estavam o grau de oxigenação, salinidade e temperatura da água.
— Disputas políticas não podem prejudicar a Lagoa — criticou o biólogo.
O secretário municipal de Meio Ambiente, Ayrton Xerez, disse que a prefeitura fechou o núcleo depois que a Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente (Feema) cancelou o convênio que mantinha, desde 2002, com a secretaria para dragagem e limpeza da lagoa. A Serla informou que a Feema continua fazendo o monitoramento das águas e que, na terça-feira, haverá uma reunião para anunciar medidas referentes à Lagoa. Entre elas, a contratação de uma consultoria internacional para o controle das espécies no local.