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2004-07-08
O Sol está passando por sua fase mais rebelde nos últimos 1.150 anos. Ninguém sabe direito a razão, mas suspeita-se de uma versão astronômica da crise da meia-idade, que poderia influenciar o clima da Terra. A descoberta foi feita por um grupo de pesquisadores liderados por Ilya Usoskin, da Universidade de Oulu, na Finlândia, e Sami Solanki, do Instituto de Astronomia de Zurique, na Suíça. Eles conseguiram obter o histórico solar do último milênio a partir de análises de colunas de gelo coletadas na Groenlândia e na Antártida. A idéia foi analisar a presença e a concentração de certos átomos de berílio -- um elemento depositado no gelo vindo do espaço. Fizeram uma correlação entre a acumulação desses átomos nas camadas de gelo e a quantidade média de manchas solares, fenômenos que denotam distúrbios magnéticos na superfície estelar. As manchas solares têm sido observadas diretamente desde 1610. O italiano Galileu Galilei (1564-1642) foi o primeiro a fazê-lo, com o auxílio de um telescópio. Desde então, os astrônomos têm observado variações nos níveis de atividade da estrela. — A reconstrução mostra que o período de alta atividade solar durante os últimos 60 anos é singular nos últimos 1.150 anos, escreveram os pesquisadores, num estudo publicado no periódico científico Physical Review Letters (prl.aps.org). Os cientistas, que também apresentaram seus resultados numa conferência na Alemanha esta semana, não sabem explicar a revolta recente do Sol. Mas sabem que alguma coisa está realmente esquisita. — O número alto de manchas durante o último século sugere que podemos estar vendo um estado que não é característico do Sol na meia-idade. Atualmente, a estrela está com cerca de 5 bilhões de anos. De acordo com seu porte, astros desse tipo costumam viver de 10 bilhões a 12 bilhões de anos.

Coincidências
Variações no brilho e na atividade do Sol podem afetar coisas que interessam mais diretamente aos humanos --como o clima na Terra, cujo aquecimento progressivo ainda é motivo de debate. Hoje, a maioria dos cientistas culpa a emissão excessiva de dióxido de carbono (CO2) por atividades humanas pelo aumento das temperaturas médias. Mas os céticos apontam que há uma enorme variabilidade natural que poderia responder por ele. A atividade solar é um desses fatores naturais. A reconstrução das máximas de manchas solares feita por Usoskin e Solanki coincide com as da temperatura da Terra no último milênio. — Ambas mostram uma lenta tendência a diminuir antes de 1900, seguida por um aumento sem precedentes, afirmam os autores. Eles dizem, no entanto, que não é possível estabelecer uma relação de causa e efeito entre as duas medições. — Eu acredito que a correlação com as manchas solares é acidental, disse o climatologista Steven Wofsy, da Universidade Harvard (EUA). Segundo Wofsy, a mudança no fluxo de energia durante períodos de maior atividade solar é tão pequena que, para que ela tivesse alguma influência sobre o clima terrestre, a atmosfera precisaria ser muito mais sensível do que se acredita que ela seja -- inclusive a gases de efeito estufa como o CO2. Apesar de oferecerem o melhor registro da atividade solar nos últimos mil anos, os resultados estão longe de precisos. A medição impede a observação de dados ano a ano, de modo que não aparecem as variações típicas do ciclo de 11 anos pelas quais o Sol passa regularmente (com picos de atividade e momentos de calmaria sucessivos). Eles também não levam em conta uma possível variação do campo magnético da Terra ao longo do último milênio, que pode ter afetado a taxa de deposição do berílio no gelo. (FSP 07/07)

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