Perto de Irecê, no município de Cafarnaum, já tem gente comemorando o milagre da recuperação da terra. Graças ao plantio de múltiplas espécies na mesma área, com os devidos tratos culturais - seu Celestino José de Souza, 68 anos, conseguiu reverter a triste realidade do solo seco, duro, improdutivo, caminhando para a desertificação. — Faz três anos que eu plantei de tudo um pouco, numa área de mil metros quadrados onde não dava mais nada que se plantava. Fiz tudo como recomendam os técnicos da Policultura. Hoje a terra é a melhor que tem e eu já colho feijão, andu, milho, fava, palma, melancia, girassol, gergelim, além de ter muitos pés de fruta crescendo. Parece milagre, comenta emocionado, ao lado da esposa, dona Zilda Alves de Souza, 60 anos. Seu Celestino é um dos cerca de 500 agricultores dos municípios de Cafarnaum, Umburanas e Ourolândia que tiveram contato com o Projeto Policultura no Semi-Árido, desenvolvido pela ong ambientalista Instituto de Permacultura da Bahia. Criado em 1999, o projeto capacita pequenos agricultores do semi-árido baiano para cultivar a terra da forma mais próxima ao sustentável. As metas são a garantia de segurança alimentar, um convívio harmônico com a caatinga, a permanência do homem no campo, o aumento da renda, a melhoria da qualidade de vida e o combate à desertificação.

Policultura X monocultura
Atualmente, a realidade que se observa na caatinga é a falência gradual de grande parcela dos pequenos agricultores, devido à degradação dos solos, baixo aproveitamento de recursos hídricos e utilização de técnicas não apropriadas como desmatamento, queimadas, plantio de monoculturas, uso de agrotóxicos e excesso de produtos químicos. Embora a seca seja a realidade, na região não se armazenam forragens, não se cultivam plantas adaptadas, a água não é acumulada, nem sempre são criados animais resistentes e a tecnologia utilizada é de clima úmido! Resultados: a produtividade das culturas de subsistência é muito baixa e o índice de desnutrição da população é alto. É aí que se aplicam os princípios da Policultura, que substituem a monocultura, tornando o ambiente mais abundante em recursos e colaborando para a conservação do solo.