Comunidade do sertão terá luz gerada por biodiesel de mamona
2004-07-02
Serrinha de Santa Maria, no sertão cearense, onde vivem 40 famílias de agricultores, será o primeiro lugar no Brasil a receber energia gerada a partir de biodiesel à base de mamona. A usina de produção do combustível está sendo instalada na Fazenda Normal, no distrito de Uruquê, a 201 km de Fortaleza e a 20 de Serrinha. O projeto piloto está sendo tocado por um consórcio de cinco empresas, liderado pela Ceará Geradora de Energia (CGE) e com investimentos de R$ 1,5 milhão. Calcula-se que ainda em julho a nova fonte de energia comece a mudar a vida da comunidade.
Liqüidificador e desenho animado
Ali, os moradores usam ferro a brasa, fogão a lenha, TV a bateria de carro e lamparina. A agricultora aposentada, Maria da Silva Nascimento, de 66 anos, pensa em comprar uma geladeira - a única do lugar fica na mercearia e funciona a gás. A agente de saúde Edileuza Farias Duarte, de 33 anos, sonha em fazer vitaminas no liquidificador para o filho, Cássio, de 7 anos. Este, por sua vez, torce por uma TV em que possa ver o colorido dos desenhos animados.
Galões de óleo
Na Fazenda Normal, administrada pela Ematerce - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará, está o maquinário para a extração de óleo e de produção do biodiesel, além do plantio da mamona em 70 hectares. A Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária responde pela plantação e pela colheita. A previsão é produzir 1.500 quilos/ha, o que deverá render 400 litros de óleo de mamona por dia. O biodiesel será levado em galões para abastecer um gerador de 81 KVA, que ficará na comunidade e será suficiente para mover um motor de irrigação e os eletrodomésticos. O cultivo da mamona não fazia parte da cultura local, onde a tradição era a pecuária leiteira e o plantio do algodão - dizimado pela praga do bicudo. A cultura da mamona foi introduzida com o projeto. Optou-se pela variedade nordestina mais resistente ao clima seco característico do Sertão Central cearense.
Processo inédito
Handerzon Palma, gerente de projetos do consórcio, diz que a tecnologia do biodiesel já existe e a extração do óleo da mamona, também. Mas na geração de energia o processo é inédito. Após uma avaliação do impacto econômico e social na comunidade de Serrinha, Palma diz que haverá a possibilidade de reproduzir a experiência em outros locais isolados, principalmente na Amazônia. Apesar do custo ainda ser alto - três vezes mais do que a energia comum -, Palma acredita na viabilidade do projeto. (Estadão 01/07)