Caramujos africanos infestam Engenheiro Beltrão/PR
2004-07-01
Uma espécie de molusco gigante, nocivo à saúde, começou a se proliferar em pelo menos duas áreas da zona urbana de Engenheiro Beltrão, na região Centro Oeste do estado – 35 quilômetros de Campo Mourão.
Denominado como Achatina fulica, popularmente conhecido como caramujo-africano, o molusco pode hospedar um parasita que, uma vez transmitido ao homem, ataca o sistema nervoso e o aparelho digestivo, podendo causar a morte da pessoa infectada.
De acordo com Antônio Rosolen Neto, secretário municipal de Saúde, a população vem sendo orientada a evitar o contato com o caramujo. Segundo informações da Vigilância Sanitária de Engenheiro Beltrão, ainda não se sabe como o caramujo chegou ao município.
No entanto, desde o fim do ano passado, os moluscos começaram a se alastrar em algumas regiões da cidade. Para Sérgio René Mazini, do Departamento de Endemias da Vigilância Sanitária, uma das hipóteses é que alguém tenha trazido o animal pensando se tratar do escargot – iguaria utilizada como alimento. —Se for isso, a idéia deu errado e agora eles estão se proliferando na cidade—, disse.
Segundo Mazini, um único caramujo é capaz de colocar 200 ovos. Embora a presença do molusco tenha sido verificada em apenas duas regiões do município, já está sendo difícil acabar com ele. Há alguns dias, os fiscais retiraram cerca de 300 exemplares que estavam alojados sob entulhos e em quintais de residências da cidade.
—Como são perigosos, acabamos incinerando todo o material em uma olaria—, disse Mazini. Ele também explicou que o município tomou conhecimento da aparição do caramujo depois que os moradores, com medo, começaram a encontrar os animais e jogá-los no meio da rua.
Maria de Lurdes Santos Mariano, de 59 anos de idade, mora em um dos locais onde o caramujo passou a ter incidência elevada em Engenheiro Beltrão. Somente em um dia, fiscais encontraram quatro moluscos ao lado de sua residência. —Isso assusta a gente, principalmente, porque causam doença—, disse.
Ela também ressaltou que a prefeitura passou no bairro fornecendo informações aos moradores. Para o secretário de Saúde, todas as medidas já foram tomadas evitando riscos de contaminação dos caramujos à população.
O molusco pode chegar a 12 centímetros de altura e pesa até 200 gramas. Possui cor cinza-escuro e concha com estrias e faixas castanhas.
Cada indivíduo põe até 200 ovos e atinge a idade adulta em seis meses. O caramujo tornou-se hospedeiro do verme Angiostrongylus Costaricensis, encontrado em intestinos de ratos. O parasita causa dor-de-cabeça severa, rigidez de nuca, formigamento diversos, paralisias temporárias e febre baixa.
Uma vez instalado nos olhos, pode causar distúrbios visuais permanentes e até cegueira.
O verme pode causar também angiostrongilíase abdominal. Esta doença pode levar a pessoa a óbito por perfuração intestinal, tumores e hemorragia intestinal. Nativo do leste-nordeste da África, foi introduzido recentemente no Brasil como substituto do legítimo escargot da espécie (Helix aspersa), uma iguaria muito apreciada na França.
O crescente aumento do consumo dessa iguaria pelos brasileiros, despertou o interesse de criadores nacionais de escargot, que o substituíram pelo caramujo-africano.(Gazeta do Povo)