Machu Picchu corre risco, diz ONU
2004-07-01
Machu Picchu, a cidadela Inca descoberta no século passado nos Andes peruanos, pode figurar na lista das Nações Unidas de patrimônios da Humanidade ameaçados. A decisão será anunciada até sexta-feira.
Depois de décadas de turismo descontrolado, deslizamentos de terra e avisos de pesquisadores de que a cidade poderia desmoronar, especialistas da ONU estão considerando dar a sanção de ultimato ao governo peruano, incluindo Machu Picchu em sua lista de risco.
A degradação da cidade, construída por volta de 1450, foi discutida na conferência sobre patrimônio da humanidade, realizada na China.
A ONU foi informada de que o turismo maciço está colocando em perigo a cidadela, declarada patrimônio mundial em 1983.
- Estar na lista significa que a degradação é tamanha que chega a ameaçar as peculiaridades que tornaram o lugar patrimônio da humanidade, e que os prejuízos podem ser irreversíveis - disse um porta-voz da Unesco. - A lista alerta a comunidade internacional para a necessidade de ajuda.
Desde que o explorador americano Hiram Bingham redescobriu a cidade Inca na montanha coberta por floresta tropical, o local se tornou um ímã para os turistas.
Mais de meio milhão visitaram o local a cada ano. Cerca de 1.500 pessoas por dia andaram pelas ruínas que permanecem de pé a 650 metros no alto da montanha, que dá nome à cidadela.
A administração regional recentemente emitiu um regulamento às agências turísticas, autorizando no máximo 500 visitantes por dia.
Mas por ser a principal atração do Peru, que rende US$ 6 milhões anuais, o governo tem enfrentado resistência aos pedidos de restrição do número de turistas.
Em outubro, Francesco Bandarin, diretor de patrimônio da Unesco, disse que se o tráfego de visitantes não diminuísse poderia afetar severamente as casas de pedra, as praças, os templos e os terraços de agricultura.
Bandarin criticou ainda o crescimento irrestrito de Águas Calientes, cidade onde os visitantes se hospedam antes de subir a montanha.
Ameaçada por pressões econômicas e comerciais, a área é também vulnerável a desastres naturais, como incêndios e deslizamentos de terra, freqüentes na região.
Luis Lumbreras, diretor do Instituto Nacional Peruano de Cultura, declarou que se medidas imediatas de proteção não fossem tomadas, suas ruínas ficariam ainda mais degradadas nos próximos 10 anos.
Em 1999, o Parque Nacional do Iguaçu, no Sul do Brasil, foi incluído entre os patrimônios mundiais ameaçados, depois que a Unesco recebeu denúncias da construção de uma estrada ilegal, que atravessava o parque. Mas o lugar já foi retirado da lista, após o governo ter fechado a via e dado provas de que vem atuando para proteger a região.
O Brasil tem atualmente 17 lugares considerados patrimônio da humanidade.