Verdes europeus nao elegeram nenhum representante no leste
2004-06-29
O partido alemão Die Gruenen/Bundnis 90 (Os Verdes) conseguiu quase 12% dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu, no dia 13 passado. Trata-se de um dos melhores resultados em quase 21 anos de participação eleitoral, que o confirmou como terceira força política. Mas, ao mesmo tempo, o partido teme o fim de sua participação no governo e lamenta o fracasso verde no resto da Europa. O Partido Social Democrata, com o qual os verdes formam a coalizão do governo, conseguiu apenas 21,5% dos votos, seu pior resultado desde 1953. Isso atesta o descontentamento dos eleitores alemães de esquerda com a política social e econômica de inspiração neoliberal colocada em prática por ambos os partidos. Krista Sager, líder parlamentar do Die Gruenen, afirmou que o resultado das eleições provou o caráter moderno de quem vota em seu partido. — Nossos eleitores são modernos e não têm vergonha da política que nossa coalizão colocou em prática, afirmou, repetindo o argumento dos dirigentes social-democratas sobre a necessidade de reduzir benefícios de seguro social para modernizar o país. Apesar da satisfação de Sager, o partido mais votado na Alemanha para o Parlamento Europeu foi o conservador e opositor União Democrata-Cristã (CDU). Isso prevê um fim prematuro da coalizão governante. Além disso, o triunfo dos verdes alemães não compensa o medíocre resultado dos partidos ecologistas no resto da União Européia. Na França, Lês Verts (Os Verdes), que haviam obtido 10% dos votos em 1999, desta vez receberam apenas 7,4%. No total, os verdes terão no Parlamento Europeu, com sede em Estrasburgo, 34 deputados, ou 5% do total de 732, e três a menos do que no período legislativo que terminou em 13 de junho. A modéstia desse resultado se destaca porque aconteceu logo após a primeira campanha coordenada pelo Partido Verde Europeu (PVE), fundado em fevereiro, com a intenção declarada de fortalecer a presença ecologista no Parlamento da UE. — Queremos ganhar as eleições parlamentares européias de junho e consolidar uma presença política da família dos verdes como sujeito político que possa atuar no âmbito continental, disse em abril, a italiana Mônica Frassoni, reeleita no último dia 13 como parlamentar européia. Mas o PVE terá representantes de menos da metade dos 25 estados-membros da UE e ficou como a quinta força em Estrasburgo, atrás dos blocos liberais e de extrema-direita, que conseguiram 66 deputados cada um. Como na Alemanha, a votação no restante da União Européia pareceu dominada pelo protesto contra políticas de governos nacionais e, em alguns casos, como os da Áustria, a região flamenca da Bélgica, Grã-Bretanha e Holanda, se expressaram fortes minorias racistas ou claramente antieuropéias. Além disso, a abstenção foi majoritária, com média de 55%, chegando até 80%, em países da Europa oriental — como Polônia — que ingressaram na UE no dia 1º de maio deste ano e participaram pela primeira vez de uma eleição do Parlamento Europeu. — Esse índice elevado se deve ao fato de que muitos pensam que as instituições européias não se preocupam com questões essenciais, como emprego, crescimento econômico e defesa dos serviços públicos, e que são, ao mesmo tempo, responsáveis por medidas impopulares em âmbito local, disse o diretor do Instituto de Observação da Vida Política Francesa, Pascal Perrinau. Entre essas medidas, citou como exemplo a proibição da produção artesanal de certos tipos de queijos que constituem uma tradição gastronômica muito querida na França. O ambientalismo, que levou à criação de partidos verdes na Europa há 20 anos, não é hoje uma preocupação central dos eleitores, especialmente dos 10 novos membros da UE na Europa do Leste, onde os ecologistas não elegeram nenhum deputado. Daniel Cohn-Bendit, coordenador da campanha eleitoral do PVE, admitiu que os verdes enfrentam um imenso desafio nesses países e deverão investir muito tempo e esforços para se consolidarem nessas nações. — Porém, os verdes europeus podem ficar satisfeitos com o resultado e que as perdas em alguns países foram compensadas com os excelentes resultados obtidos em outros, como na Alemanha, alegou. (Julio Godoy/ IPS-Terramérica)