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2004-06-24
A gigante do petróleo Shell, já sob investigação por superestimar suas reservas de petróleo, segue sendo acusada de contaminar comunidades, danificar o hábitat de vida selvagem e falhar no compromisso de responsabilidade sócio-ambiental, conforme o documento lançado pela Federação Amigos da Terra Internacional, ontem 23/06) em Londres. Por trás do brilho – o outro relatório da Shell 2003, desvenda um catálogo de miséria das comunidades vizinhas às operações da empresa ao redor do mundo. — Estas pessoas já sabem há muito tempo o que os acionistas ficaram agora chocados de saber – as promessas e compromissos da Shell não são o que parecem ser, escreve o documento. E acrescenta que representantes destas comunidades estão em Londres para levantar estas preocupações no encontro anual da companhia.

No delta do Niger, de onde a Shell retira 10% do seu petróleo, a companhia falhou ao não investir em tecnologia, resultando em 700 milhões de cf/d (pés cúbicos por dia) de gás sendo queimado no meio-ambiente. Um aumento em relação ao ano passado, a despeito do compromisso de terminar com o flaring até 2008. Gas flaring desperdiça energia, contribui para o aquecimento global e polui o meio ambiente. Esse processo tornou-se muito comum para as comunidades do Delta do Niger. O petróleo também é desperdiçado. Em 2003, aproximadamente 9900 barris de óleo foram derramados, contaminando terras, cursos d’água, e o suprimento de peixes. No Texas, a Shell está sofrendo uma ação penal por parte das comunidades vizinhas a Port Arthur que estão literalmente doentes pela poluição em suas terras. Cerca de 1200 moradores alegam que o ar, o solo, e outras contaminações liberam fumaça nociva, vapores, odores e substâncias perigosas da refinaria que processa 235.000 barris ao dia. A Shell também sofre ações legais em Manilla, Filipinas, onde o depósito da companhia situa-se no centro de uma comunidade residencial; e em São Paulo, Brasil, onde a companhia continua acusada de contaminar água potável e causando sérios problemas de saúde incluindo câncer, infertilidade e problemas respiratórios. Na ilha caribenha de Curaçao, a Shell fugiu de seus problemas vendendo sua refinaria para o governo em 1985, depois de operar durante 70 anos. A poluição da refinaria contaminou a pequena ilha, que é cercada por uma barreira de corais de 20 km, e danificou severamente a saúde da comunidade local com acusações de mortes prematuras, cânceres, defeitos de nascença, bronquites, problemas de pele e asma. A comunidade local trabalha agora para responsabilizar a Shell por estes danos. Em Lousiana, onde a ativista Margie Richard recebeu o prêmio Goldman por sua campanha de justiça ambiental contra a Shell, a comunidade continua lutando por cuidados médicos depois de anos de exposição à poluição causada pela refinaria de Norco. A Shell respondeu comissionando um estudo de análise da comunidade e não de saúde. Oronto Douglas, representante dos Amigos da Terra Nigéria, na reunião anual da Shell declara: — os negócios da Shell no Delta do Niger têm destruído o meio-ambiente, as terras e a pesca. O óleo derramado não é limpo e a queima de gás domina o horizonte. As pessoas na Nigéria não estão tendo benefícios com a presença da Shell no nosso país e sim pagando o preço. A Shell deve trabalhar com as comunidades locais para limpar o Delta do Niger e para que elas recebam os benefícios por suas operações lá.

Hilton kelley que participou da reunião anual da Shell em Port Arthur no Texas diz: — Eu realmente esperava que a postura da Shell se modificasse após minha conversa com Sir Philip Watts, em Londres, ano passado, mas a única mudança foi que Watts teve que renunciar ao seu cargo. Nós não tivemos outra escolha a não ser abrir um processo e deixar as cortes decidirem quem está poluindo o que nas nossas comunidades. Amigos da Terra Grã-Bretanha acredita que as companhias não deveriam poder causar danos às comunidades ao redor do mundo e ainda esconder de seus acionistas os impactos causados. Por isso a organização está pressionando o governo britânico a introduzir uma legislação corporativa para assegurar que as companhias britânicas contabilizem os impactos negativos de suas operações, que são incontáveis para as comunidades vizinhas às atividades da Shell. O diretor executivo dos Amigos da Terra Internacional, Tony Juniper, disse: — A Shell está sob investigação por superestimar suas reservas de petróleo mas os relatórios mostram que a companhia também superestimou a sua performance ambiental e social. Ao contrário dos acionistas, as comunidades vizinhas à Shell têm pouco ou nenhum direito de reparação. Muitos sofrem problemas de saúde, com a poluição e o dano ambiental que resulta de sua perseguição aos lucros. É hora do governo britânico legislar e dar às comunidades o direito de proteger-se deste abuso corporativo. E estas comunidades devem ser compensadas pelos abusos quando e se eles ocorrerem. (Federação Amigos da Terra Internacional 23/06)

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